REVIVENDO ANTIGOS CARNAVAIS – Parte VIII

13/02/2015 23:35:27
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Em nossa cidade, no final dos anos 40 e durante os anos 50, do século passado, a festividade do carnaval era muito espontânea e descontraída.

Todo o movimento se concentrava na nossa praça principal, e não se armavam arquibancadas na Rua Alberto Braune.

As gambiarras eram os únicos ornamentos de nossos logradouros públicos, que melhoravam a iluminação das ruas do centro.

As escolas de samba, na época, eram: Unidos da Saudade, Vilage no Samba e Alunos do Samba.

Esta última era, também, chamada de Escola do Fluminense, pois se organizava no clube de futebol existente ao lado da Capela de Santo Antônio, no Suspiro, o Fluminense.

As escolas tinham poucos componentes, que cabiam dentro de um cordão de isolamento, seguro por simpatizantes das respectivas agremiações.

Não havia samba enredo. As escolas entoavam sambas ou marchinhas compostos, especialmente, para o tríduo de Momo, sucessos dos cantores da “era do rádio”. Na maior parte do tempo, davam preferência ao seu próprio samba, como se fosse um hino oficial.

Os primeiros versos da azul e branco diziam:

“Hoje, ela é feliz

mas você não é,

porque você não quis”.

Os últimos versos da roxo e branco ( música composta por Moacyr, um mulato que veio morar em Friburgo e morreu assassinado no bairro da Vila Amélia) eram os seguintes:

“Saudade mora em meu coração

mas não quiseram me dar

um minuto de atenção.

Eu vou partir…”

Figura de respeito da escola do Bairro Ypu (Saudade) era dona Maria, uma senhora que se vestia toda de branco, contrastando com o negrume de sua pele.

Na cabeça, um turbante.

O vestido justo realçava a exuberância de suas formas, e sobre ele, a tiracolo, a faixa de ‘Diretora”.

Calçando sapatos muitos altos, se locomovia de um lado para o outro, com extremo desembaraço, deixando transparecer a sua competência e autoridade.

Alguns anos depois, surgia a “Escola de Samba Unidos Verdejantes”, com muito sucesso, organizada pelo Esperança Futebol Clube”, mas que teria pouco tempo de duração.

Nos bailes infantis da Sociedade Esportiva Friburguense e do Clube de Xadrez (à beira da piscina) eram realizados concursos de fantasias. No que foi realizado, neste último, no Carnaval de 1948, o menino Marcos Valle (que se tornaria famoso compositor da “Bossa Nova”, em parceria com seu irmão Paulo Sérgio Valle) foi classificado em 1° lugar, com a fantasia “Escocês”. Na mesma oportunidade, a menina Leyla Lopes se classificou, em 2º lugar, com a fantasia “Dama Antiga”. Quando terminava o baile infantil do Clube de Xadrez, o “Bloco do Boi”, que vinha da Vila Amélia, passava diante do citado clube, pela Avenida Rui Barbosa (atual Galdino do Vale Filho), despertando o interesse da garotada que, ao mesmo tempo, se assustava com as suas evoluções.

Havia o “Bloco dos Bichos” que, também, tinha a figura do boi, vindo do bairro de Olaria, assim como os ranchos “Estrela do Serrano” e, mais tarde, “Flor do Sertão).

Com entusiasmo e alegria, desfilava o bloco “Quem É Bom Não Se Mistura”, cujo nome mais parecia um provérbio popular.

Ao passar das 22,30 horas, as ruas iam ficando desertas, pois era chegado o momento de ter início os bailes nos clubes da cidade: Sociedade Esportiva Friburguense e Clube de Xadrez.

Este último era considerado o melhor baile carnavalesco do interior do Estado do Rio, tendo a preferência dos turistas de Niterói e do Rio de Janeiro.

Era, realmente, sensacional.

As bandas Euterpe e Campesina realizavam bailes, em suas sedes sociais, assim como o Hotel Engert (esquina de Alberto Braune com Augusto Cardoso) que os promovia para seus hóspedes e convidados. A gurizada contava com duas matinês.

Durante todo o dia, pelas ruas, era um movimento constante de crianças fantasiadas, mascarados, bloquinhos de embalo ( não tardando a surgir o “Bloco do Rascunho”) e as inesquecíveis figuras de “Lulu Carne Seca” e “Picolino”.

Conseguir lugar num dos bancos de nossa praça principal, era uma proeza.

Os libaneses Tuffy Fadel e Teófilo Zarife disputavam a preferência do público na venda de confetes, serpentinas e lança–perfumes “Colombina e Rhodo Metálico”.

O primeiro era proprietário da’ “A Luva Branca” e o segundo (pai de Gilberto, Oswaldo e Édmo Zarife) da casa “O Dragão”.

Tarefa difícil era adquirir um sorvete, um refrigerante ou um salgadinho na “Única” (da família Ruiz), na “Lux” ou no “Atlantic” (mais tarde Majórica), sempre repletos de fregueses.

Ao meio dia, da “Quarta-feira de Cinzas” muitas pessoas se aglomeravam na calçada da Delegacia de Polícia, na Av. Comte Bittencourt (hoje, Edifício Itália) para ver a saída dos que haviam sido presos, durante o período carnavalesco.

A este grupo que ganhava a liberdade, no primeiro dia da Quaresma, o povo dava o apelido de bloco d’ “O que eu vou dizer lá em casa?”

Para terminar, à noite, saia o “Enterro do Carnaval” com caixão, e com as figuras da viúva, do sacristão e do padre. Este último, encharcava uma grande brocha, num recipiente com água, e borrifava os integrantes do cortejo, como se os tivesse benzendo, deixando-os bem molhados.

O cortejo, percorria as principais ruas, à luz de archotes, cantando as músicas carnavalescas com ritmo lento e fúnebre.

Ao retornar ao Bairro Ypu, o caixão era incendiado, provocando muitos estampidos, pois o mesmo estava repleto de bombinhas, buscapés e de pequenos fogos de artifício.

Estava encerrado mais um Carnaval, só restando esperar pelo próximo.

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