O Voto Vulnerável

24/10/2014 09:29:33
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Minha vontade é de fechar os olhos e dormir até depois dessa eleição passar. Não é lá uma atitude muito cívica, mas é a pura verdade. Já defini meu voto e não sou mais de ficar tentando mudar a cabeça do vizinho, como fiz no passado. Enfim, não faço campanha. Pelo menos, não de forma ostensiva. Mas apoio, com um clique ou outro, esta ou aquela opinião com que me afino e, de vez em quando, posto meu ponto de vista.

No primeiro turno votei em Marina. Estou em paz com meu voto. Por algum motivo que não sei explicar, isso me parece importante. Marina migrou para Aécio sem titubear, o que consolidou a minha percepção: fiz a escolha certa. Coisas da vulnerabilidade eleitoral. Jamais imaginei que um dia votaria no “neto de Tancredo Neves” e agora acredito estar fazendo a opção correta. Mas, convenhamos, numa hora dessas, com a disputa tão acirrada, Deus é quem sabe. Afinal, é Ele quem escreve certo por linhas tortas.

Eu, que mais consigo escrever torto por linhas retas, e preciso me policiar para não confundir o leitor na minha harmoniosa e imodesta barafunda verbal, só posso mesmo desejar que tudo passe e a vida volte ao normal. Detesto escrever isso, mas é a pura verdade. Quem quer que esteja no poder não vai fazer o governo dos meus sonhos. Eles não extinguirão a corrupção (talvez nem a minimizem); não tomarão providências para zelar pelas nascentes de rios; não moverão céus e terra para priorizar uma educação não menos do que ótima, sabendo que reduziriam a metade os grandes problemas do país; usarão o marketing para engrandecer a si mesmos; desrespeitarão os opositores; e, claro, se fizerem uma reforma política, será apenas a possível (muito aquém da necessária).

Dito isto, entre o pessimismo e o ceticismo, escolho o quê? O menos pior, como disse aquele jovem advogado que virou ministro todos sabemos como. Fui petista vermelha e roxa. Meus amigos petistas hoje me espantam, mas eu poderia ser como eles. Arrochados nas crenças, onipresentes na campanha, parecem blocos monolíticos de uma só cor. Conseguem ser mais sectários do que o próprio sectarismo. Parecem cegos.

Na vida mesmo, no dia-a-dia – fora do manto, dos calores e das ilusões de uma eleição, vive-se sob aquele ditado: “É o que temos pra hoje”. Por isso ando preferindo a tal da “vida normal”, quando a gente abre o jornal para ler os conchavos, as alianças que nos deprimem, assiste o aperto de mão de notórios espertos que se fazem fotografar como se quisessem o bem da nação. Não querem bem nem ao próximo, quem dirá ao país. Renan Calheiros sumiu do noticiário, alguém o viu por aí?

Se os cegos e os pouco alfabetizados reconduzirem o PT ao governo no Brasil, o mérito deve ir para os publicitários. Transformar um produto difícil como o sorriso duro da presidente em algo palatável para milhões de brasileiros foi uma façanha e tanto. E nós que nos contentemos. Do mesmo modo, não temos certeza de que Aécio colocará em prática as palavras de seu discurso. Temos indícios, temos os tais 92% de aprovação em Minas. Conseguirá ele arquitetar um novo Brasil?

Se Aécio acabar com a reeleição para cargos executivos, como diz, terá feito um enorme bem ao país. E a mim em particular, que mal aguento uma campanha política no tempo regulamentar. Estou enfadada, enfastiada, cansada, chateada, incomodada, irritada e tudo o mais nessa linha. Não consigo encontrar outra maneira de terminar esse texto sem mencionar a vulnerabilidade do voto. Pouca coisa consegue ser mais volátil neste momento. Falta muito pouco tempo para abertura da primeira urna. E ainda assim, até lá parece uma eternidade. Que os bons ventos soprem.

 

 

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