O INFAUSTO DIA 9 DE OUTUBRO DE 1965

09/10/2015 10:31:47
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O dia 9 de outubro de 1965, sábado, surgiu encoberto, com uma chuva fina que não cessava. À noite, no Campo do Friburgo, na Rua Dante Laginestra, seria realizado um jogo de futebol, entre Médicos e Dentistas em benefício da Santa Casa de Misericórdia (que ao longo dos anos ainda teria os nomes de Hospital Regional, Hospital Santo Antônio e, hoje, Hospital Raul Sertã). A partida preliminar seria entre funcionários do SAMDU e dos CORREIOS.

O citado jogo, inicialmente, estava programado para o sábado anterior, dia 2, mas devido a uma chuva forte que caiu naquela noite, foi transferido para a semana seguinte, dia 9 de outubro.

Meu pai, Salim Lopes, que comprara o ingresso, com antecedência, se dirigiu ao Campo do Friburgo Futebol Clube, para assistir à partida. Lá chegando, não havia porteiro algum para receber as entradas, tomando conhecimento que o jogo estava paralisado, porque Renato Mendes Machado havia sido vítima de dois tiros, sendo removido para a Santa Casa, na Rua General Osório. Papai, imediatamente, rumou para lá e, sendo médico, teve a permissão de entrar na sala de cirurgia, constatando que nada pudera ser feito, pois um dos tiros destruíra parte do seu coração. O outro atingira o seu abdômen.

Os disparos foram consequência de uma forte discussão entre Renato, que estava servindo de porteiro, na portaria do estádio, ao lado então Companhia de Eletricidade ( a pedido do seu concunhado, o médico Dr. Chamberlain Noé) e o 2º Sargento José Francisco Ferreira da Polícia Militar, à paisana, que queria entrar de graça, invocando sua condição de militar. Renato argumentou que todos estavam pagando, inclusive os sócios, por se tratar de um evento beneficente. A discussão ficou mais acalorada e Renato se descontrolou, dando um em forte empurrão em José Francisco que, humilhado, revidou com dois disparos de sua arma, dando fim à vida de um jovem de 29 anos.

Ao saber da ocorrência, eu fiquei atônita. Renato viera residir, com sua família, aos dez anos de idade na minha rua, na nossa infância, ali permanecendo por uns quinze anos, quando se transferiu da Rua Fernando Bizzotto para a Andrade Neves, na Village, ao se casar com Yêda Caputo Faria. Neste último endereço ele foi velado até16,00 horas de domingo, dia 10 de outubro, quando saiu o cortejo fúnebre, a pé, para o Cemitério São João Batista. Um caminhão trazendo trabalhadores da Fazenda e do Barracão dos Mendes (onde Renato, em companhia de alguns familiares, comerciava produtos agrícolas) chegara a tempo de engrossar, ainda mais, o cotejo. O caixão que, logo ao sair de casa, era conduzido pelas alças, foi erguido e levado nos ombros dos amigos, durante todo o trajeto pelas ruas principais. Ele era muito querido e popular, pela sua simpatia, simplicidade, alegria e bom humor. No tempo de solteiro era o “objeto de desejo” das jovens românticas e sonhadoras, sendo uma sensação nas paradas escolares, desfilando com a bandeira brasileira, à frente do batalhão do Colégio Modelo.

Renato que, por várias vezes, havia sido Diretor Social do Clube de Xadrez, pela sua afabilidade, ao morrer, era Presidente (numa época, em que o referido clube ainda se encontrava no apogeu, dando destaque a quem ocupasse tal cargo), tendo sido eleito, em 1963, e reeleito, em 1965. Em sinal de luto, em toda a extensão da fachada da sede principal do clube, foi colocada uma imensa faixa preta, que ali permaneceu por mais de um mês.

Por ocasião de sua morte, ia circular o segundo número da revista “O Xadrezista”- Órgão Oficial do Clube de Xadrez de Nova Friburgo, que acabou sendo, totalmente, dedicado à sua memória. Os artigos foram escritos por Trajano de Almeida Filho, Dr. Hélio Veiga, Alcindo Alves dos Reis, Roberto Ruiz Galvez, Dr. Messias de Moraes Teixeira, Décio Soares, Ernesto Bizzotto Neto, Antônio Monteiro, Talinho, Pedro Paulo Bizzotto Couto (muito interessante, por descrever as últimas horas de Renato, naquele 9 de outubro).

Para consolo de seus amigos e parentes, Renato não morrera de todo, alguma coisa de sua essência permaneceria viva na pessoa de seus filhos Renato e Romero.

Uma via pública, nas proximidades do Country Clube, imortaliza o seu nome. 

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