Estreia esta semana nos cinemas Pépequeno. Karey Kirkpatrick, diretor conhecido por animações com tramas recheadas de críticas sociais (A fuga das Galinhas e A Menina e o Porquinho ), chega com mais uma espetada que equilibra bem o humor e o debate. Com um visual bem construído misturando o azul e tons de cinza na tribo em contraste do o colorido dos humanos, o enredo é a típica jornada do herói que após uma revelação, segue em uma busca de descobertas e aprendizados, para retornar com as boas novas. Migo, é o protagonista que, após uma revelação inusitada que veio dos céus, conta a existência de seres com pés pequenos para seu povo que, além de duvidar, ainda desdenha e faz dele, alvo de deboches. Migo se junta com um grupo, um tipo de clube da teoria da conspiração, e começam uma busca até que ele decide dar um grande passo para desvendar todo esse mistério. Essa inversão de valores brinca de forma inteligente com a aceitação e a capacidade de compreender o diferente quando estamos abertos ao novo. É uma trama simples que aborda um debate sério e atual. Recentemente vimos um acontecimento lamentável na fronteira do Brasil com a Venezuela e, em tudo mundo, milhares de pessoas estão fugindo de situações de miséria e autoritarismo tentando ser aceitos e bem recebidos em outras culturas e sociedades. Claro que esse debate é abrangente e cheio de consequências, mas precisamos encontrar um ponto comum e inclusivo e, filmes como esse, podem servir bem e levantar o bom debate. O diretor Kirkpatrick usa bem o humor para equilibrar e deixar a narrativa leve, isso torna a animação divertida e relevante. É certamente um ótimo programa para toda a família e vai agradar as crianças e os marmanjos. Vale muito o ingresso e a indicação etária é livre.
Estreia também esta semana nos cinemas Coração de Cowboy. Esse é um filme que vai dividir opiniões e por isso vale fazer algumas ressalvas. Trata-se de uma homenagem ao sertanejo, principalmente a dupla Chitãozinho e Xororó, existe uma paixão nítida da produção pelo projeto quanto a história e o purismo, por isso algumas escolhas no elenco e na narrativa e, por fim, é o trabalho de estreia do diretor e roteirista Gui Pereira em um longa-metragem, o que fica evidenciado por problemas de ritmo e linguagem. O enredo é sobre um cantor e compositor de sucesso no estilo chamado de sertanejo universitário, que percebe a superficialidade musical de sua carreira e entra em crise. Na busca em encontrar suas raízes, ele volta a sua cidade natal para resgatar sua essência e precisa desatar os nós que ficaram no passado. Com tudo muito clichê, o filme se arrasta por duas longas horas sem qualquer necessidade narrativa, e usa em diversos momentos uma linguagem de vídeo clipe. Gabriel Sater, filho de Almir Sater, foi uma escolha acertada apesar de não ser exatamente um ator. Claro que existem problemas nas cenas de drama, mas boa parte do elenco não é composta por atores e essa foi uma opção da produção. Françoise Forton faz a empresária vilã, Thaila Ayala o par romântico e Jackson Antunes o pai ressentido. Juntos ele e o Gabriel são responsáveis por algumas cenas realmente boas no filme. Importante ressaltar a coragem de Gui Pereira e toda a produção pela crítica feroz e contundente ao enlatado mercado de musica, especificamente o sertanejo. Com jeito de novelão, exagerado, simplista e recheado de clichês, o filme deve ser visto como uma homenagem ao sertanejo e a alguns ícones desse gênero. Vai agradar quem gosta desse universo, mas não é uma obra cinematográfica relevante. Vale o ingresso e a indicação etária é para maiores de 12 anos.
Sugestão:
Para assistir em casa a dica desta semana vai novamente para The Handmaid’s Tale. Em sua segunda temporada a série conta o dia a dia de uma facção católica extremista, após um atentado ao Presidente dos Estados Unidos. Vencedora de diversos prêmios, vale pelos paralelos com nossa própria sociedade, pelo elenco e pela qualidade de produção de arte, principalmente a fotografia e o figurino.
