Filmes da semana 21/03 até 27/03

23/03/2019 13:29:04
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Estreia esta semana em Nova Friburgo nos cinemas Nós. Primeiramente não posso deixar de destacar dois nomes que fazem toda a diferença e que marcam profundamente essa produção, são eles o cineasta Jordan Peele e a excelente atriz Lupita Amondi Nyong’o. Confesso que se essa fosse uma crítica para análise sobre referências e o conteúdo do enredo, ter visto o filme uma única vez não me capacita a ter um entendimento mais profundo da obra. Na verdade, não existe somente uma interpretação, e mesmo o filme abordando diretamente a intolerância e a incapacidade que temos de lidar com pessoas que não fazem parte do nosso grupo, tem muito mais a ser absorvido. Jordan Peele faz um trabalho primoroso de luz, música, composição de cena e de personagens. Não vou abordar o enredo e se possível, veja o filme sem nem mesmo assistir ao trailer. Peele, que também assina o roteiro brinca de forma inteligente com os sentidos e referências dos filmes de terror. Nos primeiros quinze minutos ele entrega uma situação típica do subgênero terror, com a família nas férias em uma casa pronta para serem vítimas, logo após, tudo muda e continua mudando com metáforas e inversões que podem dar nós em muitas cabeças. Destaque para a cena da luta quase no final pontuada com balé e flashbacks. As cores, os cortes e enquadramentos são geniais. Todo elenco é muito bom. Winston Duke, faz o alívio cômico e inverte o rótulo do macho alpha, Anna Diop e Shahadi Wright Joseph também estão bem, mas o filme é todo da Lupita que interpreta duas personagens dicotômicas. Não será surpresa se a bela Queniana/Mexicana precisar de mais prateleiras para novos prêmios. Surpreendente, forte, questionador e belo. Não vai agradar a todos, são referências múltiplas, que fogem ao óbvio e metáforas que necessitam que compremos a ideia e a aceitemos. O ideal é ver o filme com a mente aberta, sem esperar um terror de manual, e com a disposição para dialogar e ir além da zona de conforto. Vale muito o ingresso e a indicação etária é para maiores de 16 anos.

Outra estreia desta semana é Chorar de Rir. Comédia nacional com Leandro Hassum, o filme se utiliza de uma premissa batida para fazer piada com os géneros da dramaturgia entregando mais do mesmo sem cumprir o prometido. O enredo é sobre um comediante que consegue tirar boas piadas em qualquer situação, mas que busca algo a mais e se entrega ao drama clássico de shakespeare para provar seu valor como ator. É a pedra no sapato de todo comediante desde sempre. A comédia é considerada um gênero menor, desde os teatros circulares na Grécia, nos tempos em que as peças de Sófocles levavam o público a catarse, a quase dois mil e quinhentos anos atrás. Ainda assim, vale a ideia de tocar novamente na ferida e fazer piada de si mesmos, que é uma das melhores qualidades das comédias. O diretor Toniko Melo tenta fazer transições entre os gêneros mais de uma vez, o que pode deixar o público perdido e o roteiro se utiliza de elementos clássicos como feitiços, repetições e músicas conhecidas que sempre rendem bons momentos. Além de Hassum, o elenco conta com Monique Alfradique, Otávio Müller, Rafael Portugal e Natalia Lage que fazem bem seus papeis de sempre. Leandro Hassum continua firme em dominar as cenas com seu gestual exagerado e para quem gosta, vai certamente se divertir. É um filme bem intencionado, aborda um assunto que faz parte do cotidiano dos atores de comédia, consegue entregar bons momentos, apesar do filme não ser muito engraçado, mas derrapa em um mosaico de sequências narrativas que não se encaixaram. Para quem gosta do humor de Leandro Hassum, que se firmou como um dos maiores nomes da comédia nacional, e que atualmente carrega o estigma de ter perdido a graça ao emagrecer, vale sim ver sua nova fase e conferir se ele ainda nos faz rir. A indicação etária é para maiores de 12 anos.

A última estreia desta semana é A Cinco Passos de Você. Esse é mais um romance adolescente que envolve uma doença debilitante, mas que os hormônios e a vontade de viver vai além e supera protocolos e tratamentos para entregar um sopro de vida aos jovens apaixonados. Já vimos essa história do amor impossível centenas de vezes, mas esse formato de adolescentes da classe média grudados a um celular, que são fofos, adoram arte e tudo que é legal, ficou cansado rapidamente nos últimos anos e o desafio dessas produções é fazer algo que traga algum frescor ao formato. Infelizmente, o diretor Justin Baldoni não consegue tal proeza e acaba entregando o drama apelativo de sempre que transita entre boas lições e momentos e fábula urbana. O enredo é sobre uma menina que sofre de uma doença, fibrose cística, que a impede de se aproximar das pessoas. Durante o tratamento ela conhece um rapaz com a mesma doença e uma tendência a burlar as regras, e uma paixão transformadora surge, mesmo sendo essa uma relação complicada. Mais clichê do que isso é difícil. Ela ainda tem um melhor amigo para dar conselhos, é fofa ao extremo e tem pais amorosos que só aparecem quando a cena um tom dramático convém. O filme pode ser dividido em duas partes, a primeira em que as apresentações são feitas e tem a intenção de nos aproximar do casal, e a segunda que faz o drama pelo drama, com a intenção básica de emocionar. Existem, como não poderia deixar de ser, muitas mensagens boas sobre a forma como vivemos e aproveitamos nosso tempo e isso foi bem aproveitado. Haley Lu Richardson é uma ótima atriz e segura o filme alternando entre o romance e o drama de forma competente. O restante do elenco é praticamente apoio e Cole Sprouse, que faz o par romântico, se sai bem mais por não atrapalhar. O formato de jovens apaixonados com algum fator impossibilitaste precisa urgentemente se renovar ou vai cair no esquecimento e daqui a algum tempo só vamos lembrar de A Culpa é das Estrelas. Ainda assim vale o ingresso e a indicação etária é para maiores de 12 anos.

SUGESTÃO:
A dica para assistir em casa nesta semana vai para Teorema de Paolo Pasolini. Esse é aquele filme que marca e incomoda. Não é para todos, principalmente pela linguagem e estrutura narrativa, mas assim são os melhores poemas, a literatura e qualquer estrutura de arte dramática. Pasolini critica a burguesia, o vazio social e existencial, assim como a condição humana universal.

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