A única estreia desta semana é A Maldição da Chorona. Baseado na lenda urbana mexicana da mulher que afogou os filhos para punir o marido que a abandonou, e depois se matou, o filme parte de uma boa ideia e consegue, apesar dos caminhos fáceis que o roteiro insiste em perseguir, construir uma narrativa interessante, quase um suspense psicológico, se utilizando de elementos sociais, da culpa e do desespero. Essa é a grande força de La Llorona, que consegue criar uma fluidez entre as diversas mães que lutam por seus filhos entre si, e com a “mulher de branco” que chora ao cair da noite. A direção de Michael Chaves é ousada e tecnicamente muito bem construída. São planos amplos criando deslocamento e insegurança e planos verticalizados que confundem e criam estranheza. A fotografia também tem um destaque, com cores fortes, muito verde, amarelo e vermelho, com sequências construídas com cuidado e planejamento. Tudo isso contribui narrativamente para o filme ao ser mais sensorial e dramático. O roteiro não ajudou muito ao buscar soluções simples e até situações “Deus Ex Machina”. O ato final assume o lado da luta heroica perdendo o peso psicológico, mas isso pode ser visto de diversas formas e até agradar como uma autoparódia. Existem boas referências com Invocação do Mal e Anabelle, fazendo uma ponte interessante e muito usada para explorar sequências e atrair fãs de uma determinada franquia. Linda Cardellini está muito bem, é uma ótima atriz, Tony Amedola mais uma vez faz o padre Perez com intensidade, mas as crianças, apesar de fofas, entregam os sustos e poderiam ser melhor dirigidas. Na verdade, a ação narrativa, apesar de contar com uma arte muito competente, e direção inspirada, tropeça (ainda que propositalmente), no susto fácil, telegrafado e em clichês do terror. Me parece mais uma escolha direcionada, mas confesso que não aprecio esse formato que tende a dar a impressão que os fins justificam os meios. Importante dizer que esse é um filme que exalta a força da mulher, deixando os homens ausentes ou com participações celibatárias. Vale sim o ingresso e vai agradar aos fãs do terror e a indicação etária é para maiores de 14 anos.
Sugestão:
Para assistir em casa a dica desta semana vai para As Invasões Bárbaras. Essa é uma obra-prima de Denys Arcand que levou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2014 e entrega o que os bons filmes tem de mais interessante, uma reflexão sobre a sociedade assim como as nossas angústias, sem manipular ou complicar, se utilizando da inteligência e experiência para abordar questões importantes para o homem contemporâneo. Este é um filme para ser visto e revisto.
