Filmes da semana 16/09 até 22/09

16/09/2016 18:42:50
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Estreia esta semana a continuação e um filme que marcou a história recente do gênero terror, Bruxa de Blair. Pode-se até dizer que o original de 1999 foi o que inaugurou o found footage, uma forma narrativa cinematográfica que é montada para parecer que as próprias personagens estão fazendo as imagens. O objetivo dessa abordagem é criar uma atmosfera de documentário adquirindo forte peso dramático ao insinuar se tratar de imagens verídicas. Dito isso, vamos deixar de lado o primeiro filme e o segundo, A Bruxa de Blair 2 – O Livro das Sombras que simplesmente foi ignorado nesta continuação. O enredo é sobre um grupo de pessoas que vão para a floresta onde ocorreram os desaparecimentos 16 anos antes, para gravar um documentário e tentar ter alguma explicação sobre o que aconteceu com a irmã de James, que é uma espécie de líder do grupo. O problema aqui é que a narrativa não traz mais novidade e aí, o foco vai para o enredo que é basicamente pessoas desesperadas fugindo sabe-se lá do que numa floresta sinistra e escura. Se por um lado o diretor Adam Wingard consegue exaltar a tensão em algumas cenas e compondo boas imagens apesar da proposta, o resto como um todo é básico e previsível para quem conhece bem o gênero terror. O início é arrastado e com muita historinha para justificar as ações que por mais que tenham tentado, não fazem sentido. O elenco não compromete e alguns efeitos especiais completam uma boa variedade elementos mas ao não apresentar nada de novo, fica tudo com cara de “já te vi”. O resumo da ópera é que sem a novidade narrativa o filme ficou sem ter muito o que apresentar, salvo alguns momentos tensos como a Callie Hernandez em um túnel e nas cenas dentro da casa. Vale o ingresso mas sem esperar muito. A indicação etária é para maiores de 12 anos.

Outra estreia desta semana é Desculpe o Transtorno. É sempre bom quando as novas gerações despontam e assumem lugares de destaque em uma área como o cinema que sempre busca e precisa renovar. A internet possibilitou um sucesso como o porta dos fundos que deu uma revigorada no humor brasileiro. Alguns talentos surgiram e não demorou para que internet, televisão e cinema fossem invadidos e se misturassem. O problema é que na essência o longa-metragem tem uma narrativa própria e exige uma estética bem definida. Tomás Portella, mais uma vez oscila e entrega um retalho caricata e sem qualquer relevância. É até difícil apontar qualquer coisa boa. Gregório Duvivier e Clarice Falcão interpretam eles mesmos menos fofos que o normal. Dani Calabresa está no papel errado, Rafael Infante pouco influencia e Zezé Polessa e Marcos Caruso fazem pontas não conseguindo tirar a chatice do todo. O enredo é sobre um rapaz que tem um distúrbio que aflora com a morte da mãe e descobre outros eus em si. Tenta-se fazer um embate do paulista metódico versus o carioca descolado e vibrante. Uma espécie de trauma de infância do antes e depois da separação dos pais. Tudo isso cheio de clichês e cenas que parecem inventadas e desnecessárias só para provocar o riso. O maior problema é que o filme não tem graça. A trilha sonora é outro ponto que mais atrapalha do que ajuda. Parece até que o filme foi feito às pressas. A aura de casal fofo e descolado não funcionou e carregou tudo para um tipo de automático sem identidade. Uma pena, mas cinema é assim, não perdoa. A indicação etária é para maiores de 12 anos..

E o melhor ficou para o final com a estreia, ainda que tardia em Nova Friburgo, de Aquarius. Esse é um daqueles raros momentos em que parece que tudo se encaixa perfeitamente. O filme, o momento político por que passa o Brasil, as ações do staff em tomar partido e o resgate de uma identidade pessoal e coletiva. Quanto ao filme, é muito bom quando o diretor sabe o que quer e como conseguir. Mais do que isso, Kleber Mendonça Filho é um sopro de esperança para o cinema brasileiro ao apresentar um trabalho que diz tanta coisa importante com sutilezas e bom gosto. É verdadeiramente um presente que Sonia Braga recebeu ao poder viver a personagem Clara, uma mulher forte, decidida e que dialoga com a vida sem medo, bem resolvida e esbanjando liberdade. É um presente também para nós que podemos rever o talento de uma das maiores atrizes do cinema de todos os tempos. O enredo é sobre a resistência de Clara em vender seu imóvel para uma imobiliária que adquiriu todos os outros apartamentos do edifício Aquarius. Esse embate é como uma corrente que faz a água fluir dando forma ao rio cheio de belezas e que se revelam ao nos aproximarmos. O que faz desde um filme especial é a qualidade do roteiro, a relevância e a capacidade em levantar um debate tão importante sobre nós brasileiros, a produção, a trilha sonora e o elenco. Um filme é como um organismo e, quando tudo é bem trabalhado e existe muito talento envolvido, pode vislumbrar arte. Nesse caso, posso dizer sem dúvida, tratar-se de uma obra-prima, mas só mesmo o tempo poderá dizer. Claro que em uma primeira leitura, pode parecer um filme simples, sem nada de mais, mas a arte é melhor vista e passível de ser apreciada pelo olhar atento, treinado e com a mente aberta. É um estudo contemporâneo e necessário sobre um Brasil que anda tão perdido. Mais ainda, é uma saborosa discussão das relações humanas. É incompreensível o fato do filme ter sido descartado para representar o Brasil na premiação do Oscar, em uma decisão política e irresponsável, mas que ironicamente se mistura com o próprio filme. É disparado o melhor filme em cartaz em Nova Friburgo e vale cada centavo do ingresso. A indicação etária é para maiores de 16 anos.

Sugestão:

Para Assistir em casa a dica desta semana vai para Amores Brutos. Do diretor da “moda” do bom cinema Alejandro González Iñárritu, o filme é um drama denso e montado a partir de 3 plots diferentes. Vale muito a leitura mas não é para os mais fracos de estômago.

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