Estreia esta semana nos cinemas o aguardado A Múmia. Importante dizer logo de cara que nada tem essa produção em comum com qualquer outra múmia anterior que apareceu nas telas, seja o clássico de Boris Karloff ou os mais recentes protagonizados pelo Brendan Fraser e sua pegada de Indiana Jones. Esse é mais um nascimento de uma franquia de monstro que a Universal Pictures inicia e que faz parte de uma teia maior. Outro ponto a ressaltar é que não é um filme de terror, mas sim de aventura e fantasia. Os pontos fortes estão nas cenas usando plano sequencia que impressionam por estarem em momentos de ação, como na queda do avião. Essa técnica de tomadas sem cortes “transporta” o público para “dentro” do filme e em 3D, fica tudo muito realista. Outro ponto forte é a qualidade do elenco com Russell Crowe, Annabelle Wallis, Sofia Bostela e o carismático Tom Cruise. O problema maior desta produção está no roteiro que, apesar de trabalhar bem a dualidade humana e levantar as questões de sempre sobre a capacidade de mudarmos, a base que a trama se desenvolve é simples e despretensiosa. Parece até que falta alguma coisa. Mas isso é bem compreensível, afinal a responsabilidade é grande em iniciar um projeto muito além de um só filme e na verdade ele cumpre muito bem o objetivo a que se propõe. É um bom filme voltado para o entretenimento. Estamos na alta de lançamentos de blockbusters norte americanos e esta é um legítimo e valoroso representante. Vale sim o ingresso e a indicação etária é para maiores de 12 anos.
Esta semana temos a felicidade de receber em Nova Friburgo o Festival Varilux de Cinema Francês 2017. É uma oportunidade para quem gosta e quer conhecer uma linguagem mais autoral. O cinema francês é um dos melhores do mundo e se destaca pela forma narrativa e imagética e a forte personalidade. Vale muito ver a programação e agendar pelo menos 2 ou 3 filmes que se encaixam no seu horário. Veja abaixo a lista e um comentário breve de cada filme em cartaz de sexta-feira, dia desta coluna, até a quarta-feira 14 de junho dia final do festival:
O Reencontro
Catherine Deneuve e Catherine Front brilham em um filme de superação e transformação. Adoro filmes inteligentes, que narram sem subestimar o espectador. Esse é um exemplo e Martin Provost certamente vive seu melhor momento. Elegante, sutil e até extravagante, é um ótimo drama sobre a construção das nossas psiquês.
Frantz
François Ozon é um diretor aplaudido e festejado pelo olhar detalhista e a coragem. É uma aula de cinema em todos os aspectos. Um belo romance ambientado logo após a primeira guerra mundial, provavelmente o melhor filme do festival. Emocionante e impressionante tanto narrativamente como pela estrutura da produção. Esse vale muito o ingresso!
Na Cama com Victoria
Comédia de reviravoltas da prestigiada Justine Triet que mais uma vez constrói um filme com bom rítimo, relevante e atual. Virginie Efira interpreta a Victoria (título original) de forma magnífica em um filme saboroso, engraçado e emocionante.
Perdidos em Paris
Comedia poética que brinca com as dicotomias que nos é presente. Sensível, leve e criativo, o filme conta a história de uma canadense e um sem teto que buscam pelo paradeiro da avó da moça em Paris. Destaque para a composição das cenas dos diretores Fiona Gordon e Dominique Abel que são também os protagonistas do filme.
A Vida de uma Mulher
O filme é uma adaptação inspirada de um romance que evolui para o drama. Conta a história de uma jovem mulher que se apaixona e, apesar de todas as desilusões, se mantém íntegra e forte. Os pontos fortes do filme estão nas imagens, na narrativa, nas cores e sons. Dá quase para sentir as estações, o perfume e as garras das noites frias, ainda que de forma delicada e intensa.
Um Instante de Amor
Marion Cotillard mais uma vez demonstra todo seu talento e beleza em uma história sobre a essência do amor. Bonito, relevante, atual e comovente, o filme conta a busca de uma mulher que vive um casamento por “obrigação”, buscando a felicidade e o amor. Uma bela adaptação do livro de Milena Angus.
Uma Família de Dois
Comédia e drama em um filme de grande sucesso e bilheteria na França. Conta a relação entre um menino que foi deixado pela mãe e que depois de 8 anos, ela retorna gerando conflitos e reacendendo antigas questões.
A Viagem de Fanny
Trabalhar com crianças é sempre um desafio e Lola Doillon conseguiu realizar um drama que exalta a força, os sonhos, a solidariedade e a amizade. Lideradas pela pequena Fanny da apenas 12 anos, 8 crianças viajam pela França tentando chegar à fronteira suíça. Inspirado em uma história real, é um sopro de esperança que sentimos ao ver a obstinação e coragem das meninas fofas e aparentemente inocentes.
Uma Agente Muito Louca
A típica comédia de confronto social que conta a dificuldade da primeira mulher em atuar na elite da polícia, tendo como parceiro o instrutor que não faz a menor fé na moça. Cheio de clichês, é engraçado e mais leve do que as comédias que normalmente vemos nos cinemas.
Tal Mãe, Tal Filha
É raro ver Juliette Binoche em um papel cômico, e é também muito bom. Mãe e filha engravidam ao mesmo tempo o que inicia um conflito de gerações. Para completar a filha é velha e a mãe é uma adolescente em suas personas. Lambert Wilson e Catherine Jacob completam o elenco desse filme leve e divertido.
Rock’n Roll – Por Trás da Fama
Divertido, dramático e relevante. Um tipo de sátira ao “ridicularizar” o modelo do astro sexy que se encontra ladeira abaixo. A indústria da música sempre foi a mais cruel e, Guillaume Canet sabe bem como contar os bons e os maus momentos desse universo normalmente revestido por uma bolha pronta para estourar. Ousado e comovente, deixa o melhor para o final.
Tour de France
O filme é uma comédia dramática de choque de gerações. Um rapaz de 20 anos se vê obrigado a acompanhar o pai do seu produtor por uma turnê pelos portos da França seguindo os passos do famoso pintor Joseph Vernet. Todo o peso dramático é depositado nos atores que não só, seguram bem o desafio, como engrandecem o filme. É forte, até pesado, mas também humanista e revelador.
Um Perfil para Dois
É a típica comédia que agrada a todos. Um senhor aposentado conhece uma moça na internet mas usa a fotografia do seu instrutor de informática em seu perfil pessoal. Claro que chegará a hora inevitável de um encontro pessoal e o problema vai ser convencer o rapaz a ir em seu lugar. Inteligente, bem roteirizado e envolvente, essa comédia trata da sociedade atual que individualiza e isola as pessoas. A internet é um canal e nós só o aproveitamos, seja para o mal ou para o bem.
Rodin
O filme conta uma parte da vida do escultor Auguste Rodin e da sua paixão pela Camille Claudel. O forte do filme está na qualidade das personas e no cuidado com os detalhes. Sensível, forte e tocante, é a arte refletida na vida e nas emoções dos seus criadores. É um bálsamo para quem gosta de arte.
Na Vertical
Alain Guiraldie é um nome que já vem chamando a atenção a algum tempo e nos presenteia com um soco firme, seco, necessário e magnífico. Impossível descrever em poucas linhas algo tão subjetivo e que consegue debater tanto a complexidade do ser humano. Impressionante a atuação do jovem ator Damien Bonnard. É um dos filmes mais fortes e grandiosos do festival.
O Filho Uruguaio
Um drama tratado de forma delicada, abordando um assunto complexo que é a renuncia da maternidade em detrimento do que pode ser melhor para o filho. Inspirado em uma história real, o filme narra a busca de uma mãe para encontrar o filho que foi levado pelo ex marido a 4 anos atrás. É forte, existencialista, sensível, lúcido, benevolente e conta com a sublime interpretação da Isabelle Carré.
