Filmes da semana 03/11 até 09/11

03/11/2017 18:44:44
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Estreia esta semana nos cinemas Big Pai, Big Filho. No disputado mercado para animações, é sempre bom ver trabalhos fora do eixo de Hollywood. Esta é uma produção belga e francesa, do mesmo estúdio de As Aventura de Robson Crusoé de 2016 e, apesar da qualidade visual caprichada, ainda demonstra problemas com o roteiro. O enredo é sobre um menino, aparentemente normal, que se depara com situações inusitadas quando o seu corpo começa a mudar repentinamente. O cabelo e os pés crescem rapidamente e os sentidos básicos ficam mais apurados. Tudo isso ocorre no mesmo momento em que o menino descobre que seu pai, diferente do que ele sabia, está vivo. A busca do menino o leva até o Pé Grande, seu pai que vive escondido para fugir de empresas inescrupulosas que querem seu DNA para criar um tônico capilar. Apesar da boa ideia, é fácil notar a fragilidade e a inocência em desenvolver algo mais elaborado. Esse é o grande problema do filme. Pouco atraente para os adultos, o desenvolvimento narrativo tenta segurar a atenção das crianças com o visual, o ritmo e a boa trilha sonora. É uma tarefa complicada e que oscila por conta da limitação em apresentar novidades o tempo todo. Os animais são fofos e cativantes, mas isso, dura por pouco tempo. As descobertas desenvolvem a trama, mas também esfriam. As piadas ajudam a descontrair e funcionam bem, mas alguns momentos de insensibilidade do roteiro criam lacunas e causam estranheza. É uma boa animação que peca pela infantilidade e pouco primor do roteiro. Nada faz além de trazer diversão básica e pouco desenvolvida. Mais uma bela animação do estúdio nWave que vai agradar sem marcar. É o famoso bonitinho, ou o feio bem arrumado. Não foi desta vez, mas a prática faz o monge e espero em breve ver uma animação fora do circuito tradicional indo além do bonito sem conteúdo. Vale sim o ingresso e a indicação etária é livre.

Outra estreia desta semana é Depois Daquela Montanha. Esse é o típico filme de tragédia que tenta fazer algo interessante mas se perde por conta do fraco roteiro e da incoerência narrativa. O enredo parte do drama após uma queda de um avião fretado em uma região montanhosa coberta por neve. O que se segue daí é o clichê básico, com a luta pela sobrevivência e o desenvolvimento de uma relação entre as personagens que, normalmente, revela e transforma a percepção e as prioridades sobre as coisas e as pessoas. E é só isso mesmo. Kate Winslet e Idris Elba até tentam, mas é impossível salvar as incoerências e a bobagem romântica que o filme insiste em perseguir. E não é por questões raciais ou sociais, mas pela forma rasa que as personagens conduzem suas transformações. Alguns bons momentos são vistos na tela principalmente as paisagens e planos abertos. Os momentos de drama são bem convincentes pela boa química e a qualidade dramaturgia dos atores, mas infelizmente isso não é suficiente para salvar o conjunto da obra. Para piorar a estrutura é brega e forçada. Começa pelo título em Inglês que a tradução tentou disfarçar mas pouco adiantou. Esse é um tropeço nas carreiras da dupla de protagonistas e um beco para o diretor israelense Hany Abu-Assad que novamente insistiu em uma abordagem apelativa para o romance improvável, e caiu na armadilha do piegas chato e certinho. Vale o ingresso pelos atores e o visual, mas sem levar muito a sério, principalmente a pegajosa cena final. A indicação etária é para maiores de 12 anos.


A última estreia desta semana em Nova Friburgo é Historietas Assombradas: O Filme. Em 2005 Victor-Hugo Borges lançou o curta Historietas Assombradas para Crianças Malcriadas que chamou logo a atenção e foi direto para a televisão pelo Cartoon Network. O que a animação imprime com força, é a estranheza que os traços criam em histórias de terror sobre o universo infantil. É uma abordagem lúdica e com traços muito diferentes das animações que ganham tela atualmente. Esse é um grande trunfo da animação ao ser um estilo descolado na forma narrativa com personalidade visual e uma pegada irônica. Visualmente é uma enxurrada de informações que deixa a sensação de que tem sempre alguma coisa que estamos perdendo, mas isso faz parte da experiência. O enredo é sobre o jovem Pepe que descobre ser adotado e decide ir atrás das suas origens no mais básico e funcional estilo da jornada do herói. Interessante é que, como se trata de uma história de terror, tem momentos fortes mesmo sendo uma animação. Ainda que não faça de maneira explícita, são assuntos duros como o abandono e a morte. A boa sacada do diretor, foi construir uma narrativa visualmente marcante, com muita criatividade e diretamente ligada ao público infantil e pré-adolescente. Para quem já conhece e curte, será obviamente uma experiência mais completa por reconhecer melhor as nuances do formato e das personagens. É um sopro de criatividade e uma proposta visceral que gera grande empatia ao comunicar uma verdade pessoal do Victor-Hugo. É forte a sensação de liberdade criativa que a animação passa e isso gera uma receptividade forte pelo público em geral. Parabéns para todos os profissionais envolvidos e esse, é certamente mais um passo positivo para a animação brasileira. Vale muito o ingresso e a indicação etária é livre.

Sugestão:
Para assistir em casa a dica desta semana vai para Xingu. Essa é uma daquelas belas surpresas que o cinema pode nos proporcionar. Provavelmente o melhor filme nacional de 2012. Muito bem produzido, conta a aventura, a doação, a superação e a coragem dos irmãos Villas Boas. Muito além da luta pela preservação dos povos indígenas, Xingu fala do “Bom Humano” e mistura raças e culturas.

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