Filmes da semana 03/02 até 09/02

03/02/2017 19:04:53
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A principal estreia desta semana é Estrelas Além do Tempo. Com 3 indicações ao Oscar 2017 o filme é famoso “bonitinho e bem arrumado”. Hollywood gosta da fórmula de superação que segue um passo a passo que comprovadamente agrada a todos mas parece um conto de fadas engessado. A história é ótima, o elenco é incrível e a produção caprichada, mas essa coisa de seguir uma narrativa de manual é que sempre atrapalha. O filme começa com as moças com o carro enguiçado na estrada e chega um policial, claro, só para criar suspense e dar o tom de cada persona. É o clichê do clichê e subestima a inteligência do público. Tirando o fato de irritar pelo modelo narrativo sem personalidade, o filme é sim muito bom. Conta a história de 3 mulheres negras Katherine, Dorothy e Mary Jackson que durante a década de 60, em plena segregação racial, trabalharam na Nasa e contribuíram de forma decisiva na corrida espacial em plena guerra fria. O elenco é bem conhecido e conta com Octavia Spencer, Taraji P. Henson e Janelle Monáe fazendo o trio protagonista e Kevin Costner, Kirsten Dunst, Jim Parsons, Aldis Hodge e Mahershala Ali, que está também em outro filme indicado ao Oscar, que completam os coadjuvantes e dão peso e boa fluidez aos diferentes núcleos dramáticos. No fundo é uma bela homenagem e uma crítica ao racismo, mas com tantos clichês e ritmo arrastado, não vai surtir muito efeito. Salva mesmo um diálogo incrível entre as personagens Dorothy (Octavia Spencer) e Vivian (Kirsten Dunst), quando a Vivian diz não ter realmente nada contra a Dorothy que respondeu: ”eu realmente acredito que você acredita nisso”. Parece pouco, mas bate fundo na hipocrisia que contamos a nós mesmos. Nos achamos bons, legais, justos e, é claro, vamos direto para o céu. É uma autoimagem distorcida que nos protege e nos impede de agir. Filosofia à parte, é o típico filme que a academia do Oscar adora. Conta uma bela história de vida, é bem produzido e dirigido, emociona e carrega o peso da superação pessoal e de uma nação. Não vai levar a estatueta de melhor filme mas compõe bem a lista dos indicados. Vale muito o ingresso é livre para qualquer idade. 

Estreia também em Nova Friburgo Passageiros. Confesso que achei que os cinemas deste lado da serra fluminense tinham esquecido desse filme que estreou no Brasil a quase 1 mês e que já está em fim de festa nas outras praças. O filme é uma ficção científica totalmente voltado para o romance. A ideia é boa mas o desenvolvimento da trama é preguiçosa e boba. O enredo é sobre uma nave espacial indo rumo a um planeta distante levando 5 mil pessoas e alguns tripulantes. O problema é que a cápsula de hibernação do Jim Preston, um tipo de MacGyver do futuro, se abre 90 anos antes da data de chegada e não tem como o rapaz voltar a dormir. Isto é, praticamente a primeira hora do filme é toda com o rapaz e o Michael Sheen, o atendente do bar robô. Ao todo o filme só tem 4 atores até os últimos 2 minutos e foram escolhidos a dedo. Jennifer Lawrence e Chris Pratt são dois dos mais fofos e queridos que carregam o filme. Michael Sheen é o robô que só está ali para criar algum diálogo nos momentos de solidão das personagens e Laurence Fishburne faz uma aparição desnecessária e sem sentido, só para amarrar pontas soltas do roteiro. É um belo e bem produzido filme com forte apelo visual, mas é bobo e com uma narrativa arrastada. A fotografia do Rodrigo Pietro soma muito narrativamente, assim como a ótima música do Thomas Newman mas, por mais que gostemos do casal de atores e tudo mais, o roteiro preguiçoso de nada ajuda. Não chega a ser uma decepção, mas está aquém do trailer e da qualidade dos atores. Destaque para as cenas da piscina quando falta o controle de gravidade e para os passeios fora da nave. Por fim, não posso deixar passar a aparição no final do ator Andy Garcia bem mais velho e com ares de Manda Chuva. Vale o ingresso sim e a indicação etária é para maiores de 12 anos.

Outra estreia desta semana e que tem muitos fãs é O Chamado 3. Necessário dizer logo de cara que a única referência com os filmes anteriores é mesmo a menina horripilante que sai da televisão. O resto é tudo novo em uma tentativa clara de modernizar e criar um novo público para a franquia. Importante dizer que se passaram 15 anos desde o primeiro filme da versão norte americana e 19 anos do Ringu de 1998 que é o original japonês adaptado do livro de Koji Suzuki, portanto, algumas gerações atrás. Só que tudo foi muito bem feito no passado e lançar um novo capítulo não seria fácil. A opção do diretor e dos roteiristas de esquecer o passado, pegar só a ideia e tratá-la de forma moderninha, além de ser a mais difícil, certamente não foi acertada. O enredo trás a “lenda” sobre o vídeo amaldiçoado para a internet e é claro que tem sempre um curioso. Alex Roe e Matilda Lutz formam o casal, um tanto sem química, que vai lutar para sobreviver após verem o vídeo. O elemento novo é que eles descobrem que tem um vídeo dentro do vídeo e aí a coisa toda se desenrola nos 7 dias que eles tem como prazo. Fora isso, é mais do mesmo. Sustos gratuitos o tempo todo, a fotografia tenta fazer algo semelhante ao filme original mas tem pouca personalidade e a trilha sonora, apesar de boa, fica forçando a barra para aumentar o suspense. Uma questão interessante é que os coadjuvantes Vincent D’Onofrio de Law & Order e Johnny Galecki de The Big Bang Theory, são melhores do que os protagonistas e carregam o filme nas costas. A verdade é que para os fãs o filme é frustrante e para o público em geral é o terror de sempre. No final ainda fica um gancho para uma continuação. Certamente vão mudar o rumo e colocar a coisa toda nos trilhos novamente buscando sempre referências ao original, além de meras piadinhas como nesse caso. Só vale o ingresso para os apreciadores do gênero e a indicação etária é para maiores de 14 anos.

Por fim a estreia nacional desta semana é TOC – Transtornada, Obsessiva, Compulsiva. A Tatá Werneck é um daqueles casos raros de amor à primeira vista. Todo mundo gosta dela, seja por ser naturalmente engraçada ou pela cara de cachorrinho que fez besteira. O problema é: será que ela consegue segurar um longa como protagonista? O bom é que não só conseguiu, como surpreendeu. Na verdade esse é um dos melhores filmes de comédia dramática dos últimos tempos. É engraçado, bem feito, aborda um assunto sério de forma inteligente e com um elenco de primeira. Pena o trailer ser tão menor do que o filme e passar uma impressão errada. O enredo é sobre uma atriz que segue o caminho da celebrização a qualquer custo e sofre com tudo que cerca essa “felicidade de faz de conta”. O trunfo do filme está no roteiro. Os diálogos são inteligentes, o caminho trilhado foi respeitoso e bem construído, afinal o título do filme é sobre uma doença e o debate a que se propões é atual e relevante. Os diretores Paulinho Caruso e Teo Poppovick acertaram no ritmo e na mistura das cenas com canções como, não posso deixar de citar, Ouro de Tolo do mestre Raul Seixas. O elenco está afiadíssimo e isso ocorre por causa da boa preparação e direção de elenco, até porque o talento dessa turma é grande. Além da Tatá, Bruno Gagliasso, Vera Holtz, Ingrid Guimarães, Luis Lobianco e muitos outros estão fazendo o que sabem e bem feito. Destaque para a cena entre Tatá e a Ingrid, que no filme são rivais mortais, que rolou no improviso. O filme é uma grata surpresa e, principalmente, a constatação de que quando uma turma boa se prepara e toma o devido cuidado, consegue realizar cinema de verdade, como deve ser. Claro que não vai agradar a todos, não é a comédia com cara de novela, na verdade é muito melhor e precisamos começar a sair da caixa e dar lugar à arte que cria, comunica e debate. Não saia do cinema correndo, tem cenas após os créditos. Vale muito o ingresso e a indicação etária é para maiores de 14 anos.

Dica:Para quem gosta de futebol americano, domingo dia 5 de fevereiro é o Super Bowl e vai passar ao vivo no cinema do Cadima Shopping à partir das 20:45hs. Vale pelo espetáculo.

SUGESTÃO:
Para assistir em casa a dica desta semana vai para A Outra História Americana. Um filme sobre o preconceito e os caminhos inevitáveis para quem insiste em uma visão equivocada. Estrelado por Edward Norton, é um pouco do que estamos vendo nos últimos tempos aqui no Brasil e em todo mundo. Enquanto estivermos a tremular bandeira da exclusão, do separatismo e da autopreservação em detrimento a dor e o sofrimento de outros, estaremos certamente no caminho errado.

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