“ÊTA TEMPO BOM”!…

24/08/2016 20:51:52
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Como é prazeroso, ao cair da tarde, num momento de descontração, acomodar-se numa poltrona confortável, para assistir a um capítulo da novela ”Êta Mundo Bom” de Walcyr Carrasco. É uma regressiva e sonhadora viagem no túnel do tempo, que nos leva de volta aos inocentes anos de 1940.

A figura acolhedora de Dona Anastácia (Eliane Giardini), com seu penteado irretocável, trajando um elegante tailleur, me faz reviver a imagem de minha saudosa mãe. Na época, uma autêntica representante da mulher dos anos quarenta, envolvida pelo suave aroma de um perfume “Coty”.

Imediatamente, aparecem as figuras de minha carinhosa avó, de meu zeloso pai e, não demora muito, crianças que brincavam comigo, invadem o meu jardim.

A algazarra de vozes infantis quebra o silêncio e, sem tardar, ouço cantigas de roda e o cadenciar de passos que pulam corda ou amarelinha.

A seguir, a imagem de minha primeira professora surge, com nitidez (não havia Jardim de Infância) e com ela, o mundo encantado de formar as primeiras sílabas e de conhecer o mistério dos números.

A simplicidade do material escolar era comovente, transportado em rústica pastinha de couro (não havia mochila), onde não faltava o estojo de madeira que continha um lápis, uma borracha, caneta, penas e o vidro de tinta, levado com cuidado, para não derramar.

O período de férias era o tempo de viagens. Ocasião de andar de trem- carro mágico e encantado- o transporte seguro para um mundo de sonhos e de fantasias; da mesma forma que o bonde, na capital, a percorrer as melancólicas ruas de um Rio antigo, guardião de tesouros históricos.

O trânsito de automóveis era pequeno. Os táxis eram chamados de carros de praça ou carros de aluguel e os taxistas de motoristas ou de chauffeurs.

No interior, as bicicletas eram muito usadas.

Pelas calçadas tranquilas, sem assaltos, homens trajavam terno (composto por calça, colete-onde era usado o relógio de algibeira- e paletó) de linho, caroá ou casimira inglesa, fazendo uso do suspensório. A gravata era realçada por um alfinete de ouro, com um rubi, pérola ou brilhante. O cabelo rigorosamente penteado com Gumex, Glostora ou Petróleo Menelik, mas o toque de distinção era dado pelo uso do chapéu (Prada, Ramenzoni ou Mangueira).

As mulheres de“tailleur”, de vestidos de seda ou de veludo (confeccionados por competentes modistas ou costureiras), complementavam a elegância com broches de marcassita, camafeu ou colares de pérola. Nos dias frios de inverno, usavam capotes de lã, de astracã ou casacos de pele. As calças compridas não faziam parte do vestuário feminino, agasalhando as pernas com longas meias de seda ou de algodão, presas por ligas ou cintas ( não havia ainda a meia-calça).

As meninas com rodados vestidos de organdi, com muitos babados e rendinhas e, nos cabelos, fitas de cetim arrematando as tranças.

Os meninos de calças curtas, só passavam a usar a comprida, por volta dos doze anos (momento aguardado por eles, com muita ansiedade), com seus calçados sempre engraxados O tênis só era usado para fazer ginástica ou para a prática de esporte. Tudo era feito sem pressa, e os trabalhos domésticos realizados ao som dos programas radiofônicos.

À noite, no aconchego do lar, as novelas “Em Busca da Felicidade” e “O Direito de Nascer” reuniam a família em torno do aparelho de rádio.
Aos domingos, saborear um sorvete, passear na praça e ir ao cinema constituíam a recompensa, o prémio máximo, após uma longa semana de trabalho (não havia a “semana inglesa”).

Assim, por tudo quanto foi relembrado, pode-se dizer,  com toda a certeza: “ÊTA TEMPO BOM!”   

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