Se fizermos um pequeno esforço, podemos modestamente entrever através da História do Mundo os laços eternos que ligam todas as gerações nos surtos evolutivos do planeta. Apesar de muitas vezes o palco e o cenário das civilizações terem sido profundamente modificados, nós “atores” continuamos os mesmos, caminhando, vagarosamente, nas lutas purificadoras em sucessivas encarnações curativas, para a Perfeição Divina.
Nos primórdios da Humanidade, o Homem foi naturalmente conduzido às atividades exteriores, desbravando o caminho da natureza para a solução de seus problemas vitais. Porém, um pouco mais adiante no tempo, foi proclamada a sua maioridade espiritual através dos sábios da Grécia e das organizações romanas. Nessa época, a vinda do Cristo ao planeta assinalaria o maior acontecimento para o mundo, uma vez que Seu Evangelho seria a eterna mensagem do Céu que ligaria a Terra ao Reino luminoso de Jesus, na hipótese de que o Homem pudesse assimilar sua espiritualidade através dos ensinamentos recebidos, e dessa forma curar-se-ia paulatinamente, edificando o Bem em si.
Porém, a pureza dos ensinamentos de Cristo não conseguiu manter-se intacta. No decorrer dos três séculos seguintes à lição santificante de Jesus, o assédio das trevas domina o coração e a mente dos homens. Surgem a falsidade e a má-fé adaptando-se convenientemente aos poderes políticos, religiosos e econômicos do mundo, distorcendo todos os princípios cristãos ao favorecer as doutrinas de violência legalizada. Em nosso socorro, foram então enviados do Alto os emissários e discípulos mais queridos do Mestre Jesus ao ambiente das lutas terrenas, na vã tentativa de tentar reverter na palavra e no exemplo este doloroso espetáculo de horror. Porém, quando não foram trucidados pelas multidões delinquentes ou pelos carrascos das consciências, foram obrigados a se render diante da ignorância humana.
Revendo os quadros da história do mundo, sentimos um frio cortante neste crepúsculo doloroso da civilização ocidental. A história da humanidade nos alude basicamente a dois tipos característicos de indivíduos: os heróis e os algozes, ambos com os seus consequentes prêmios ou castigos. Porém não sabemos exatamente o que acontece com os milhões de homens que vem, vivem, passam pela Terra e não deixam marcas. Homens cujas vidas se diluíram em meio à vida das multidões. Homens que, com seu trabalho e dedicação, deram aos heróis condições de realizar seus grandes feitos. Homens que com sua sagacidade e vilania proporcionaram aos grandes tiranos a semeadura das maiores desgraças humanas. Homens que vieram e viveram pressionados pela sociedade ou foram praticamente escravizados pelos mais sagazes. Porém, durante estes milhões de anos em busca da Cura evolutiva, a raça humana ainda não exercitou o bem-viver, com exceção de uns poucos.
Desde essa época, o progresso espiritual da humanidade ficou estacionado, ou até mesmo sofreu uma regressão. Tornou-se incompatível a evolução espiritual com os meios encontrados pelo homem físico para aquisição do conhecimento. É por esse motivo que, ao lado dos maiores avanços científicos e tecnológicos, como a internet, que liga todos os continentes e países da atualidade, e que deveria servir como indicador para os imperativos das leis da solidariedade humana, vemos o conceito de “civilização” insultado por todos os princípios patriotas de isolamento; pessoas que se mascaram, agridem e se protegem atrás de uma tela de computador, enquanto os povos, os governos e algumas religiões se preparam para o extermínio, a guerra, o massacre e a destruição.
Em nome do Evangelho, infelizmente se cometeram e ainda são praticados todos os absurdos nos países ditos cristãos. Na verdade, a civilização ocidental não chegou a se cristianizar. Na França tivemos a guilhotina, a forca na Inglaterra, o Nazismo na Alemanha, as fogueiras na Inquisição Europeia, e ainda hoje a cadeira elétrica na América da “fraternidade” e da “concórdia”. Isto para nos referirmos tão-somente às nações supercivilizadas do planeta. Não tão distante assim no tempo, em nome do Evangelho padres abençoaram os canhões e as metralhadoras da conquista na Idade média. Em nome de Deus, milhares foram torturados e morreram nas fogueiras da Inquisição Espanhola. Em nome de Cristo espalharam-se, nestes vinte séculos, inúmeras discórdias e amarguras no mundo, através de religiões que se propagam entre os choques da força e da ambição, do egoísmo e do domínio.
Porém, chegará o tempo em que todos os valores humanos deverão ser reajustados. Infelizmente, vemos isto ocorrendo através de dolorosas expiações coletivas, como as recentes tragédias climáticas que se espalham pelo mundo: os constantes terremotos, tornados, tsunamis e inundações por todos os cantos do planeta, que nos impelem a nos redimirmos perante o Divino e Suas Leis, apontando os verdadeiros caminhos. É uma lástima que o Homem não escolha aprender pela via do Amor! Dessa forma, dor se incumbe do trabalho de esculpir o “homem bruto”, uma vez que a Lei Divina prega que todas as realizações humanas devem ser conduzidas para o Bem da Humanidade, e ainda estamos muito aquém deste ideal.
Todo o orbe planetário deverá ser regenerado, e está sendo curado pelo sofrimento, higienizado para que as futuras gerações possam se estabelecer em formas de vida mais depuradas e elevadas. A cura humana se realiza então pela dor, onde todo o “Mal”, ou seja, a imensa Sombra da natureza humana, cujas forças derradeiras ainda operam no inconsciente coletivo e individual de cada um de nós, habitantes do planeta Terra, será compelida a abandonar a sua derradeira posição de domínio no comportamento humano. Dessa forma todas as atitudes ditatoriais e impositivas, as disputas, as guerras, as hegemonias econômicas, as politicas separatistas, as antigas e ultrapassadas organizações, a educação desprovida de valores espirituais, a cultura do desvalor e do consumo desenfreado, enfim, todas as massas versáteis que se configuram de forma inconsciente; tudo isso passará como a vertigem de um pesadelo, pois a vitória da ignorância, do mal, da força e da violência é tão breve como uma claridade de fogos de artifício.
Trabalhemos pela Cura do Mundo, ainda que a nossa oficina esteja localizada no deserto de nossas consciências. Todos somos chamados ao grande labor da autotransformação e da purificação interna, e o nosso mais sublime dever é responder aos apelos evolutivos de nosso próprio espírito, desenvolvendo em nós o Amor, em benefício do Todo.