A Solidariedade da Mulher no Caminho do Calvário

27/03/2018 11:02:01
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Naquela manhã, de sexta-feira, a cidade de Jerusalém, com aspecto festivo, apresentava um movimento além do normal. Pessoas apressadas ultimavam as suas compras, peregrinos começavam a chegar, o Templo de Salomão estava engalanado. Eram os preparativos para as comemorações da Páscoa, festa que lembrava a saída dos judeus do Egito para a Terra Prometida – através da travessia milagrosa do Mar Vermelho, sob a liderança de Moisés- da condição de escravos para cidadãos livres, do exílio para a pátria.

As mulheres se ocupavam em preparar, com esmero as iguarias variadas que seriam servidas em tão importante evento. Dentre elas, Verônica – mulher zelosa, cônscia de suas obrigações domésticas – também, se dedicava ao cumprimento das tarefas do seu lar. Estava em sua casa, quando ouviu um falatório vindo da rua. Aquele burburinho levou-a à janela e viu, em meio de um pequeno cortejo e de alguns soldados, um homem sem forças, conduzindo uma pesada cruz. Mal enxergava onde estava pisando, pois o sangue, que corria por sua testa (devido aos pontiagudos espinhos de sua coroa), entrava em seus olhos, turvando a sua visão. Verônica, mulher piedosa mas destemida, não vacila. Corre, abre caminho por entre as pessoas, passa pela soldadesca e se aproxima do condenado. Num gesto inesperado, tira de sua cintura o alvo pano que lhe servia de avental e enxuga aquele divino rosto. Ao retirá-lo, para espanto seu e dos demais presentes, não havia mancha de sangue borrada e informe, mas uma fiel reprodução daquela face.

Aquele homem não era um cidadão qualquer. Sob a aparência de uma simples criatura, ali estava o enviado do Senhor, o Filho de Deus encarnado, Jesus Cristo.

Antes desta cena memorável, um outro fato, digno de registro, ocorrera. Dentre os curiosos que se acotovelavam para ver aquela procissão macabra, havia um homem robusto, natural de Cirene, chamado “Simão, o Cireneu”. Retornava do seu sítio, onde estivera cuidando da sua plantação, quando foi forçado, pelos soldados, a ajudar o condenado a levar a cruz. Eles tinham receio de que Jesus não conseguisse chegar ao alto do Monte Calvário, pois já havia caído sob o instrumento do suplício. De fato, Jesus precisava de auxílio, e embora a ajuda de “Simão, o Cireneu, não tivesse sido espontânea, Ele o agradeceu com um olhar penetrante. O “Cireneu”, em seu coração, se sentiu atingido como por um raio, e a sua conversão foi imediata.

Mais adiante, um grupo de mulheres de Jerusalém presta solidariedade a Jesus, chorando e lamentando a morte de um inocente.
De todas as pessoas que acompanhavam aquele séquito, uma se destacava pela dor estampada em seu rosto. Era Maria, Mãe de Jesus que seguia, em companhia de sua irmã Maria Cléofas, da filha desta, Maria Salomé e de Maria Madalena. Ela, logo que fora avisada da prisão e da condenação de seu Filho, saíra apressada ao seu encontro. Embora nada pudesse fazer para aliviar o seu sofrimento, levaria o conforto de sua presença, seguindo-lhe os passos. Ao chegarem ao topo do Monte Calvário, enquanto os cravos transpassavam as mãos e os pés do Filho, a alma da Mãe era crucificada pela dor da amargura. Mas não se deixou abater. Reuniu as forças que lhe restavam e permaneceu de pé, ao lado da cruz, durante todo o tempo da agonia de seu Filho até que ele exalasse o seu último suspiro. Maria Madalena estava sucumbida. Ajoelhada, aos pés da cruz, chorava copiosamente a morte de seu Mestre.

Onde estavam os homens? Os seus apóstolos? O temor fez com que ficassem à distância ou escondidos em algum lugar (até Pedro já o havia negado). Apenas o apóstolo mais jovem, João – que viria a ser conhecido por João Evangelista – esteve presente durante todo o percurso da “via crucis” e dos últimos momentos de Jesus.

Observando-se todo o trajeto do Calvário, nota-se que as mulheres não se omitiram, estiveram presentes, dando um testemunho de coragem, amor e compaixão. O homem que ajudou Jesus a levar a cruz, não o fez espontaneamente, e sim por imposição dos soldados.
Na madrugada do primeiro dia da semana, mulheres piedosas, dentre elas, Maria Madalena, Joana, Maria Salomé foram ao sepulcro, levando aromas, para embalsamar o corpo de Jesus, mas encontraram a sepultura vazia. Ele havia ressuscitado.

E para demonstrar todo o reconhecimento e gratidão à solidariedade das mulheres, no momento crucial de sua vida, elas foram privilegiadas, sendo as primeiras testemunhas de sua gloriosa ressurreição, como Maria Madalena.

Publicada em 23/03/2015

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