A ESTAÇÃO FERROVIÁRIA – O TREM

20/03/2015 12:07:32
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O prédio de nossa estação ferroviária que, neste ano de 2015, está completando 80 anos (atual sede da Prefeitura Municipal), foi inaugurado no dia 2 de junho de 1935, em substituição à estação anterior, datada de 1873. Para a solenidade de inauguração compareceu o Interventor do Estado do Rio de Janeiro, Comandante Ary Parreiras, acompanhado do Secretário Estadual de Obras Públicas, Dr. Americano Freire e de grande comitiva. A Banda Musical Campesina Friburguense abrilhantou o evento, com a execução de vários dobrados, e o jornal “O Friburguense” dedicou sua primeira página ao grande acontecimento municipal.

O prédio, em questão, de dois pavimentos, em estilo colonial, para abrigar uma estação ferroviária, era um dos mais bonitos do Estado do Rio de Janeiro.  No sobrado, residia o Agente da Estação. No térreo, havia na entrada, um espaçoso “hall”, onde se encontravam as bilheterias; uma larga e extensa plataforma acimentada; local para despachar as bagagens e mercadorias; sanitários para damas e cavalheiros, dotados de salas de estar confortáveis; um amplo e arejado restaurante para viajantes e passageiros, famoso pela comida de excelente qualidade, com iguarias saborosas e variadas. Era administrado pela Sra. Adélia Cunha Macedo, auxiliada pelo seu filho mais velho Arlindo Macedo, o “Moreno”.

Nos fundos do prédio, em vasto terreno, ficavam as oficinas para os reparos dos carros e das locomotivas, e a caixa d’água para abastecê-las. A figura de destaque da estação ferroviária era Dona Elvira Afonso, a zeladora do sanitário feminino, que pela sua dedicação, era conhecida por “Dona Elvira da Estação”. De alma romântica, estava sempre a compor e a dizer alguma poesia. Era clara, corada, de olhos de intenso azul (cujos óculos de grau não conseguiam esconder a beleza), cabeleira branca, apaixonada pelas tradições friburguenses. Enquanto confeccionava delicadas flores de pessegueiro e crisântemos matizados, rememorava a sua mocidade, narrando as competições de patins, realizadas no ringue existente no final da praça (hoje, Rodoviária Urbana), das quais participava, sendo quase sempre, campeã.

 

Quanto aos trens, conforme a variedade dos horários e dos destinos, recebiam diferentes denominações: “ Expresso”, “Passeio”, “Jaú”, “Sumidouro”, Misto”, “Rápido”. Este último, seria o mais recente horário a ser estabelecido. Do Rio saía um trem às 12,15 horas, outro partia de Niterói , as 12,40 horas e se encontravam em Visconde de Itaboraí, formando uma só composição. Chegava a Friburgo, às 17,00 horas.
Tornar-se-ia um hábito dos friburguenses, nas tardes de sábado, de verão, esperar a chegada do “Rápido”, com seus alegres veranistas (como eram chamados os turistas, na época). O saguão da estação ficava repleto de curiosos que iam apreciar, principalmente, os trajes das senhoras.

O transporte dos empregados, que iam fazer a manutenção das estradas de ferro, era feito por “troley”, um carrinho que eles movimentavam, utilizando longas varas. Os funcionários mais graduados e os diretores faziam uso do “carro de linha”, semelhante a um bonde pequeno, mas todo envidraçado.

Uma rede ferroviária exigia para o seu funcionamento, uma grande equipe de funcionários, que são chamados de “ferroviários”. São eles: os “Agentes da Estação”, os “Telegrafistas”, os “Condutores”, os “Guarda-freios”, os “Guarda- chaves”, os “Bilheteiros”, os “Foguistas”, os “Maquinistas”. Dentre estes últimos, o mais popular era Adalberto Pinho, um negro alto, magro, muito falante, que seria, algumas vezes, candidato a vereador. Seu “slogan” era o seguinte: “Quem vota em Adalberto Pinho, não vota em branco”. Ele nunca conseguiu se eleger para a Câmara Municipal.

Os passageiros podiam contar com o auxílio dos “Carregadores”, para levar as suas bagagens. Os mais antigos, e mais solicitados, eram o “Número Um” e o “Número Dois”. Um deles só tinha parte de um dos antebraços mas, mesmo assim, desempenhava com agilidade a sua função.

Onde hoje está o quartel da Polícia Militar, ficava a “Estação de Cargas”,e sobre o Rio Bengalas, quase à sua frente, uma ponte de ferro com vários arcos.

Em Conselheiro Paulino, havia uma pequena estação de passageiros, nas imediações da atual quadra da agremiação carnavalesca “Alunos do Samba”.O trem era o símbolo de Nova Friburgo. Quando ele passava garboso, pelas nossas ruas principais, badalando o sino, o friburguense se entusiasmava e o seu coração transbordava de orgulho. O único dia do ano, em que o seu sino emudecia, era na Sexta-feira Santa. Para as crianças, ele era o transporte mágico que as conduzia ao “ Reino das Fadas” ou a alguma região encantada d’ “Os Contos da Carochinha”.

Quem, na sua infância, não teve a ventura de conviver com o mundo da “Maria Fumaça”, perdeu uma parcela preciosa de uma importante fase da sua vida.

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