PSICOLOGIA: Direito Adquirido

12/06/2018 11:11:08
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Até o final da década de 80, nascia o final da geração que não ganhava nada fora aniversário e natal. Dia das crianças, somente os mais favorecidos.

Férias! Quanta brincadeira em família. Época que encontrávamos nossos primos, vizinhos, amigos e íamos brincar. Brincar de pique, escorregar no
barranco, gude, aliás, brincar do que tinha. Até um pedaço de bambu servia como espada. Éramos felizes, pois não conhecíamos outra realidade. Nossos pais vinham de uma criação mais conservadora, e raramente podiam brincar, eles trabalhavam. Trabalhavam muito e quando sobrava tempo, brincavam.

Olhando desse modo, parece que estamos no “lucro” em relação aos nossos pais. Mas vou começar a pontuar umas características de nossa geração e a deles.

Nossos pais só ficavam doentes e procuravam ajuda quando realmente havia necessidade, já nossa geração se deixa abater com mais facilidade. Vamos ao hospital por qualquer dor, porque temos plano de saúde ou porque achamos que pagamos o SUS! É um direito adquirido.

Nossos pais trabalhavam muito, e quando chegava o dia de Natal, com toda simplicidade e timidez olhavam para nós e diziam: aqui está o seu presente. Nós chegamos no dia do Natal e dizemos (muitas vezes pra nós mesmos): comprei essa TV porque trabalhei muito pra conseguir. Eu mereço. É meu direito adquirido! 

Deixemos essa discussão no século passado e passemos, de fato, para a reflexão e vejamos o impacto na vida da geração de hoje. Nós também precisamos trabalhar muito, mas, em relação aos nossos filhos, não queremos que eles passem pelo que passamos. Ao invés de dois ou três presentes por ano, nossos filhos ganham essa quantidade por mês, porque, “pobrezinho… eu passei por tanta necessidade, não quero que ele passe o mesmo. Eu tinha que comer arroz, feijão e ovo. Deixa o menino comer nuggets, bacon, bife, batata frita e o que ele quiser, afinal é um direito que ele tem” (adquirido).

Para encurtar essa reflexão e ir direto ao ponto: criamos uma geração oposta à nossa. Geração que não pode se frustrar. Que escolhe tudo. Que tem direito a fazer tudo, mas são emocionalmente frágeis, pois não sabem o que é “não ter” ou “não poder”. Trata-se de uma geração que tem férias todos os finais de semana e feriados. Não podem esperar onze meses! É uma geração que colocamos numa redoma de vidro para não sofrer.
Precisamos seriamente e com urgência parar para pensar sobre isso, pois estamos criando uma geração que não tem persistência sequer para assistir um vídeo de dois minutos no YouTube. Como esse adolescente ficará sentado numa sala de aula por quatro horas? Se conseguir passar por essa fase, como ficará no emprego por oito horas?

Nossos filhos precisam ser incentivados a prosseguir. A chegar ao final, senão, não terá final. Eles precisam chorar e entender que tudo tem um valor, que isso não é um direito adquirido!

Pensemos nisso. Façamos a nova geração correr atrás dos direitos sim, mas dando extrema atenção aos deveres. Iniciar e concluir. Precisam alcançá-lo cumprindo seus deveres, sejam eles fáceis ou difíceis. Isso é educar. Isso é amar. Isso é fazer com que o direito tenha uma consequência boa, pois ele não foi adquirido, ele foi conquistado.

Priscila Viana
Psicóloga Clínica, Especialização em Hipnose Clínica, Abordagem Transpessoal, MBA em Gestão Estratégica de Pessoa e Avaliação Psicológica, atuando em consultório por 11 anos e pela Polícia Federal.

Tels.: 22 9 98995399 / 25801389 – email: priscila@solucione.psc.br

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