Lava Jato prende ex-deputado e empresário por fraude na saúde do RJ e hospitais de campanha

14/05/2020 11:57:06
Compartilhar

Principal fornecedor dos governos Wilson Witzel e Sérgio Cabral, no Rio de Janeiro, o empresário Mário Peixoto foi preso na manhã desta quinta-feira, 14/5, pela Polícia Federal. A ação, que reuniu 120 agentes, foi batizada de Operação Favorito, um braço da Lava-Jato no estado. De acordo com as investigações, Peixoto e outros alvos da força-tarefa, entre eles o ex-presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) Paulo Melo (MDB), são acusados de participarem de uma organização criminosa que desviou dinheiro dos cofres públicos em compras superfaturadas na área de saúde e também por envolvimento em ilicitudes no aluguel dos hospitais de campanha para atender vítimas de covid-19.

Ao todo, foram expedidos cinco mandados de prisão e 42 de busca e apreensão pelo juiz da Lava-Jato fluminense, Marcelo Bretas, da 7ª Vara Criminal Federal, além de 11 intimações para prestar depoimentos, no Rio e em Minas Gerais. A PF atuou em parceria com o Grupo de Atuação Especializada no Combate à Corrupção (Gaecc), do Ministério Público estadual, o Ministério Público Federal e a Receita Federal. 

Mário Peixoto foi preso em Angra dos Reis, na região da Costa Verde do estado. A Operação Favorito é um desdobramento da Quinto de Ouro e Cadeia Velha, também etapas da Lava-Jato no Rio. O objetivo é apurar a atuação de um grupo de empresários que, por meio do pagamento de vantagens indevidas a conselheiros do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ), deputados estaduais e outros agentes públicos, vem há pelo menos 10 anos se destacando como um dos principais fornecedores de mão-de-obra terceirizada para o governo.

Segundo a PF, a corrupção em contratos envolvia Organizações Sociais. Houve interceptações e quebras de sigilos telefônicos. As prisões já estavam autorizadas por Marcelo Bretas desde fevereiro deste ano. No entanto, foram suspensas em razão do novo coronavírus. Desde então, foi possível colher mais provas de que o grupo também praticou crimes durante a pandemia em contratações emergenciais sem licitação e tinha interesses em negócios em hospitais de campanha.

“Os elementos apontam que o grupo criminoso alavancou seus negócios com contratações públicas realizadas por meio das suas inúmeras pessoas jurídicas, entre elas cooperativas de trabalho e Organizações Sociais, em sua maioria constituídas em nome de interpostas pessoas, a fim de permitir a lavagem dos recursos públicos indevidamente desviados e disfarçar o repasse de valores para agentes públicos envolvidos. A investigação aponta que os atos de lavagem de capitais também ocorrem no exterior, por meio da constituição de empresas e contas bancárias não declaradas à RFB (Receita Federal), bem como compra de imóveis em Miami, estando em curso diligências de cooperação jurídica internacional para mapear o caminho dos recursos em comento”, disse a PF em nota.

As empresas de Mário Peixoto e de sua família são as principais fornecedoras de mão de obra terceirizada na atual administração de Wilson Witzel. O empresário é ligado, principalmente, ao advogado Lucas Tristão, secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Energia e Relações Internacionais. Tristão chegou a trabalhar para Peixoto antes de Witzel assumir o governo, em 2019. Nos bastidores, o empresário, que ajudou na campanha de Witzel, tem influência em várias secretarias. Peixoto disputa poder dentro do governo com o pastor Everaldo Pereira, da Assembleia de Deus e dono do PSC, partido de Witzel.

Mário Peixoto, no entanto, é um velho conhecido do Palácio Guanabara. Durante anos, ele também foi beneficiado pelo então governador Sérgio Cabral, preso na Lava-Jato. Suas empresas prosperaram a partir da primeira gestão de Cabral, muito em virtude do íntimo relacionamento que mantinha com alguns dos principais caciques do MDB, incluindo Jorge Picciani, outro ex-presidente da Alerj, com quem tinha negócios em comum. Picciani está hoje em prisão domiciliar. Com partido no poder, Peixoto passou a administrar Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) e amealhou contratos com o estado que somaram mais de 1 bilhão de reais.

Mário Peixoto também é fornecedor do governo federal. Ele foi delatado por Jonas Lopes Neto, filho do ex-presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ) Jonas Lopes. Neto afirmou que Peixoto pagava um mensalão de R$ 200 mil para o órgão, entre 2012 e 2013. Paulo Melo, por sua vez, já havia sido alvo da Lava-Jato. Condenado por corrupção passiva e organização criminosa, o ex-presidente da Alerj ficou preso em Bangu 8, mas, desde março, cumpria prisão domiciliar.

FONTE: REVISTA VEJA

Compartilhar