Friburgo: Jornalista relata experiência de ser testada para covid-19

03/12/2020 11:51:52
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POR PAULA VALVIESSE / O DIA (reprodução)

Com apenas um médico plantonista para atender a todas as demandas relacionadas a CTI do Hospital Municipal Raul e ainda avaliar as pessoas com suspeita de Covid-19 que procuraram a unidade nesta terça-feira, 1/12, o tempo de espera para realização do teste para doença foi longo. Com sintomas leves, eu, Paula Valviesse, repórter do jornal O DIA, cheguei à unidade antes das 8h e levei quase 13 horas para conseguir encerrar o procedimento.

No hospital, a emergência atende tanto pacientes com sintomas de Covid-19, quanto aqueles que não têm sintomas gripais e buscam a unidade para outros procedimentos, como emergências ortopédicas e pediatras, por exemplo. A entrada para ambos é no mesmo prédio, havendo apenas uma divisória comum separando os dois grupos.

Na manhã desta terça-feira, antes das 8h já havia uma fila de pessoas que aguardavam para realizar o teste de Covid-19, o que chegou a confundir um pouco quem buscava outros atendimentos. O atendimento em si só começou por volta das 8h30, sendo solicitado por alguns funcionários do hospital que as pessoas tivessem paciência, já que todos seriam atendidos.

A triagem pode ser dividida em quatro etapas. Na primeira, duas enfermeiras registraram os dados dos pacientes, aferindo pressão e saturação de oxigênio, realizando exame de diabetes e anotando os sintomas. Em seguida, é necessário voltar para a fila para preencher a ficha. Na terceira etapa, o paciente é atendido pelo médico, que passa os exames necessários. E, por fim, após a realização dos exames, as pessoas que foram solicitadas a fazer Raio-X ou exames complementares, como, por exemplo, sangue, urina ou para outras doenças, têm que enfrentar uma nova fila para apresentar os resultados ao médico.

“No meu caso, fiz o exame PCR (quando o cotonete é inserido no nariz para colher amostra do trato respiratório) para Covid-19 e também Raio-X e teste para Influenza. Cheguei às 7h40, meu primeiro atendimento foi às 9h46, depois preenchi a ficha às 10h20, mas só consegui ser atendida pelo médico após às 12h. Fiz os exames e medicação para dor por volta das 14h. No entanto, o resultado só saiu após às 18h, quando ingressei na última fila para apresentar os resultados. Fui atendida pelo médico já eram quase 21h”.

De acordo com os profissionais da saúde que atuavam no dia, quase 90 pessoas estiveram na unidade buscando testes. Além disso, outros pacientes, principalmente transferidos da Unidade de Pronto-Atendimento de Conselheiro Paulino (UPA 24 Horas), foram atendidos no Hospital Municipal Raul Sertã.

“Os profissionais de saúde que atuam no hospital municipal e estão na linha de frente de combate a essa pandemia são verdadeiros heróis. Além de atenderem aos pacientes, os que tive contato nesta terça-feira ainda fizeram isso com leveza, amor e dedicação. Existe o problema da falta de profissionais para atender a real demanda, mas também existe uma grande falta de administração. É impraticável pedir às pessoas que estão fazendo a triagem e os exames iniciais que ainda cuidem da fila, organizem todos para evitar aglomeração”.

FILA, FALTA DE ORGANIZAÇÃO, AGLOMERAÇÃO

Fila, aglomeração, uso incorreto de máscara e demora, muita demora. A sala de espera para a triagem é pequena, a tenda montada pela Secretaria de Saúde está sem uso devido às condições climáticas e, como não há nenhuma outra cobertura, os pacientes que estão na fila precisam enfrentar o sol quente ou, como na tarde desta terça-feira, a chuva. Com isso, houve muita aglomeração.

Idosos, adultos e crianças, com sintomas gripais claros, como tosse e espirro ou sem apresentar sintomas, todos tiveram que esperar no mesmo espaço. A fila ainda ficou maior com a necessidade de retorno de algumas pessoas para conseguir prolongar os dias de atestado, uma vez que o resultado do teste ainda não havia saído.

“Procurei o hospital no dia 18 de novembro, porque estava apresentando sintomas de Covid-19, mas não estavam fazendo testes. Retornei no dia 22, mas não estavam fazendo exames. Só consegui fazer os teste na quinta-feira, 26, quando consegui cinco dias de atestado. Mas o tempo de atestado acabou e o resultado ainda não saiu. Não posso voltar sem o resultado, então vim aqui para pedir mais alguns dias de atestado, para não perder o dia de trabalho”, conta o confeiteiro Luan Rodrigues.

Apesar de estar na unidade somente para uma nova avaliação e pedir um atestado, Luan precisou passar pelas duas etapas iniciais da triagem para conseguir ver o médico. Além disso, como não houve atendimento de emergência no hospital na última segunda-feira, por conta da falta de médico, todos que precisaram tiveram que voltar na terça.

Por volta das 12h, a profissional que estava preenchendo as fichas, no balcão de atendimento para pacientes com sintomas gripais, saiu para almoçar. Quem não conseguiu completar aquela etapa, precisou esperar. Depois disso, o único médico que estava prestando atendimento também saiu para almoçar, levando pouco mais de uma hora para retornar.

Com isso, muitas pessoas que chegaram ao hospital pela manhã, só foram registradas na parte da tarde: “Meu peito está cheio de leite, chega a estar doendo, porque a minha filha só mamou de manhazinha”, desabafou uma das pacientes, que tem uma filha de 1 ano e três meses, que ficou em casa com o marido, enquanto ela esperava para fazer o teste. A jovem mãe, que chegou no hospital por volta das 9h, só conseguiu sair depois das 20h.

Na parte da tarde, houve uma tentativa de organizar o atendimento com a distribuição de senhas, mas o sistema não funcionou muito bem. No fim, com o encerramento do turno das enfermeiras que estavam cuidando da triagem, as pessoas tiveram que se organizar sozinhas, formando uma fila, sem o devido distanciamento, para estabelecer quem seriam os próximos a serem atendidos pelo médico, fosse para primeira consulta ou para apresentar resultados de exames.

O QUE DIZ A PREFEITURA

Procurada sobre a situação relatada pela repórter do jornal O DIA, a Prefeitura de Nova Friburgo salientou que “o quadro de funcionários é composto por profissionais multidisciplinar, tais como técnicos de imobilização e imagem, enfermagem, fisioterapeutas, transporte, administrativo, entre outros e que, apesar de deficiências pontuais, funcionam de forma a suprir as demandas”.

Quanto a falta de médicos, a administração confirmou que existe um déficit e ainda disse que está encontrando dificuldade em completar o quadro, apesar de ter aberto vários processos seletivos: “Em relação ao quadro de profissionais médicos, a maior carência é no atendimento de pronto-socorro, principalmente por socorristas às segundas e quartas-feiras. Os profissionais foram chamados, principalmente para recomposição do quadro de socorristas nos dias citados, entretanto, o número de inscritos é insuficiente e dos que se inscrevem, poucos efetivam seus respectivos vínculos”.

O município ainda ressaltou que a demora no atendimento tem sido observada em todas as unidades de saúde, seja pública ou privada, na atenção básica ou na hospitalar. E ainda garantiu que o fato da triagem para emergência de pacientes com e sem sintomas gripais estarem próximas não prejudica o atendimento, que é feito de forma separada no interior da unidade.

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