Delator afirma que setor de transporte público bancou caixa 2 da pré-campanha do governador

05/11/2017 09:57:55
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Por Jornal O Globo

O marqueteiro Renato Pereira contou em seu acordo de delação premiada, cujo conteúdo foi revelado pelo jornal GLOBO neste domingo, 5, que a pré-campanha do governador Luiz Fernando Pezão, feita a partir de 2013, custou R$ 5 milhões, orçamento decidido em reunião ocorrida no mesmo ano com a presença do ex-governador Sérgio Cabral e do ex-secretário Wilson Carlos, em gabinete anexo ao Palácio Guanabara. O delator afirma que o empresário do setor de transportes Jacob Barata bancou a maior parte da pré-campanha.

Na reunião, o grupo constatou, segundo o relato, que Pezão precisava de atenção especial e antecipada, em razão de sua dificuldade de comunicação. Ao marqueteiro, encomendaram treinamento, apoio em redes sociais e peças de TV.

Segundo Pereira, coube ao então secretário de obras do governo Cabral, Hudson Braga — atualmente preso em Benfica —, cuidar do pagamento pelos serviços, por indicação do próprio candidato ao governo do Rio. Braga não era o tesoureiro da campanha de Pezão. O delator mencionou encontros com o secretário para tratar do tema em seu gabinete.

Emissários teriam enviado R$ 400 mil mensais em espécie, entre o segundo semestre de 2013 e junho de 2014, ao prédio da Prole, sua agência. Outros R$ 700 mil foram pagos diretamente a Pereira por Paulo Fernando Magalhães Pinto, ex-assessor de Cabral já condenado a nove anos de prisão na Lava-Jato.

COBRANÇA NO MERCADO DO PEIXE

Uma nova reunião foi feita em maio de 2014, disse Pereira, no apartamento de Cabral, no Leblon, para decidir o custo total de marketing da campanha de Pezão: R$ 40 milhões. É quase o dobro do valor declarado oficialmente no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Os registros apontam R$ 21,8 milhões em pagamentos à produtora Cara de Cão, usada pelo marqueteiro. Pereira diz que foi orientado na época a procurar novamente Braga para acertar o cronograma de pagamentos quinzenais.

De acordo com a delação, o ex-executivo da Odebrecht Leandro Azevedo já havia relatado ter pagado R$ 23,6 milhões em dinheiro e 800 mil euros diretamente a Renato Pereira, como forma de financiar a campanha de Pezão e manter “acesso privilegiado” ao governador. Em seu acordo, Pereira repetiu ter recebido valores de Azevedo, sem citar números. No entanto, ele confirmou e detalhou a operação envolvendo o pagamento de euros da Odebrecht no exterior.

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Segundo o marqueteiro, diante de dificuldades para receber dinheiro, uma reclamação a Cabral teve efeito imediato: ele foi procurado, em agosto de 2014, por Braga. Marcaram um encontro no Mercado do Peixe, na Barra da Tijuca, ocasião em que Braga o sondou sobre a possibilidade de receber no exterior. O marqueteiro concordou.

Em sua delação, o executivo da Odebrecht diz ter feito uma transferência para conta do Banco Banif, nas Bahamas. Pereira complementou e foi além: era uma conta de doleiro responsável por entregar o equivalente em espécie, no Brasil.

Segundo o delator, além da Odebrecht, emissários de Jacob Barata também entregaram valores em espécie, tanto a ele quanto ao seu sócio Eduardo Vilela. Foi “por volta de dez vezes, sempre a mando de Hudson Braga”, afirmou.

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