CRÔNICA: Um Príncipe em Nova York foi o primeiro Pantera Negra que vi

19/07/2018 09:59:00
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Em 2018 a comédia sobre o príncipe Akeem (Eddie Murphy) e a fábula do amor verdadeiro em contraste com a tradição do casamento arranjado completa 30 anos. Coroado príncipe em uma nação africana fictícia, Akeem convence o pai, rei Jaffe (James Earl Jones) a permitir uma viagem à Nova York para encontrar sua própria rainha antes dele se casar com a pessoa que sequer conhece. Da rotina de realeza, com uma tropa de funcionários o mimando todo o tempo, Akeem vai parar no Queens em um hotel simples. Aí o filme demonstra a sua potência.

O príncipe não entende o racismo, as diferenças de tratamentos, fica fascinado com comportamentos e linguagens diferentes. Começa a trabalhar, pela primeira vez na vida, em uma lanchonete. Se apaixona por uma mulher independente, neste caso a filha do chefe. Ainda tem a participação especial de Samuel L. Jackson como um bandido desastrado. Estamos falando de um filme lançado em 1988, em um mundo bastante diferente.

Voltando à contemporaneidade, ainda não entendo a facilidade com que fazem cafuné em quem comete racismo. Não sei como tanta gente pondera atitudes estúpidas como equívocos da rotina. Passou o tempo de deixar pra lá. Essa semana um “digital influencer “ muito famoso no Brasil – confesso que ainda não o conheço – fez uma publicação racista. Perdeu apoio e patrocínios. Foi defendido por um monte de gente. Imagine a quantidade de “piadas” racistas no dia a dia de negros três décadas atrás e perceba a importância do filme de Murphy.

Um Príncipe em Nova York foi o primeiro Pantera Negra que vi. A história de Wakanda, nação fictícia africana, não foi só um filme, mas um acontecimento social no ano de 2017. Gerou debates, causou reações orgulhosas e emocionantes em diversos cantos do mundo. Principalmente para a população negra do planeta, alvo de discriminação em quase todos os lugares. Não se percebia representada na indústria do cinema, por exemplo. As crianças não tinham grandes referências negras no mundo dos super-heróis. Aí veio Pantera Negra e sua linguagem de filme de aventura fantástica. É a linguagem do século XXI assim como a comédia era a linguagem dos anos 80 para esse tipo de temática em Hollywood.

Um Príncipe em Nova York às vezes é lembrado sob a batuta de “filme de sessão da tarde”, como se fosse uma categoria inferior. Reveja: é um filme sobre uma família negra, rica, em contato com uma realidade de humildade e dificuldade de seus semelhantes em um país que debate constantemente a questão da imigração. Isso mesmo: uma comédia sobre imigração. O mais legal disso tudo era a quebra de estereótipos. O príncipe não precisava esfregar o chão da lanchonete. Por ser negro, muitos pensavam que fazia por necessidade. Não ali, revertendo todos os olhares. Akeem estava sempre rindo. Assim como senegaleses em São Paulo, sírios no Rio, venezuelanos em Roraima, bolivianos no Acre, nigerianos na França, kosovares na Suíça. Afinal, o mundo mudou. Todo mundo é príncipe, tudo é Nova York.

Thiago Kuerques
Bacharel em Turismo e Escritor
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