O Cine Marabá

11/09/2014 12:50:43
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Certa ocasião, tive a oportunidade de entrevistar a saudosa Sra. Zenith Macedo Vassallo, a Dona Zazá, viúva de Mário Vassallo, um dos proprietários do Cine Marabá, a respeito das origens do citado cinema. Gentilmente, e com riqueza de detalhes, ela me narrou:

O Cine Marabá foi inaugurado no dia 28 de janeiro de 1950, domingo, às 12,00 horas, na Rua Leuenroth nº29, ocupando parte  do terreno, onde, num prédio espaçoso, havia funcionado o tradicional Hotel Leuenroth e, posteriormente, o Colégio Modelo.

Os seus proprietários eram os irmãos Mário, Rubem e Felício Vassallo (filhos do italiano Domingos Vassallo e de sua esposa Dona Dorfilha Eyer Vassallo), o primo Reynaldo Eyer, e os amigos Ulisses Ennes, Antônio Cabral, Clarindo Carestiato e Alfredo Karl.

A ideia da construção de mais um cinema para a nossa cidade surgiu, certa vez, quando estes amigos conversavam, à sombra dos eucaliptos, em nossa praça principal.

O nome Marabá foi sugerido por Ulisses Ennes e, por unanimidade, aprovado pelos demais. O grupo de idealistas adquiriu, por compra, o terreno da Rua Leuenroth, de propriedade do Sr. Leal Santos que ali tinha um pequeno parque de diversões, com uma barraca de tiro ao alvo. Muitos foram os sacrifícios e as dificuldades surgidas durante o período de construção do prédio, mas a união dos oito sócios a tudo resistiu.

Foi portanto, com justa alegria, que viram a inauguração de sua casa de espetáculos, com um filme francês, naquele verão de 1950. Porém, outros problemas eles iriam enfrentar, principalmente, a falta de filmes. Isto porque, o proprietário do Eldorado, que estava no ramo há quase dez anos, tinha contratos de exclusividade com as grandes companhias cinematográficas, para a exibição dos lançamentos e grandes sucessos.

De início, o Marabá tinha de se contentar com velhas fitas de Carlitos, do Gordo e o Magro, de Mazaroppi e com filmes franceses, quase sempre proibidos até 18 anos, considerados indecentes para os rígidos padrões morais da época.

Naquele tempo, “a sétima arte” era a maior diversão do povo; Hollywood, a capital mundial do cinema; no firmamento da glória, brilhavam atraentes astros e sedutoras atrizes; as companhias cinematográficas proliferavam, em todo o mundo, pois tinham lucro garantido.

Com esta avalanche de filmes, em menos de dois anos, surgiu para o Marabá, também, a oportunidade de exibir  películas memoráveis como “O Morro dos Ventos Uivantes”, “Tarde Demais para Esquecer”, “Marcelino, Pão e Vinho”, “O Balanço das Horas” (com Elvis Presley), “Sindicato de Ladrões” (com Marlon Brando), “Carmen” (com Rita Haywort), “Miguel Strogoff”, “Stromboli” (com Ingrid Bergman), a reprise d’ “E…O Vento Levou”, os três da série “Sissi, a Imperatriz” e muitos outros.

Na época, era muito comum alugar-se o cinema para benefício de alguma casa de caridade ou de qualquer finalidade filantrópica.

Foi assim que, ao concluir o Curso Científico no Colégio Modelo, a minha turma alugou o Marabá, a fim de ajudar no custeio da festa de formatura. Na ocasião, foi exibido o filme “Escrava de uma Lembrança”, com Jane Russel.

Com o passar dos anos, a vida iria separando os sócios. Primeiro faleceu Ulisses Ennes, depois, Mário Vassallo, assumindo seu lugar a viúva Zenith Macedo Vassallo. Clarindo Carestiato deixou o  Marabá para fundar os seus próprios cinemas: o “São Clemente” (em Olaria), o “Sant’Ana”(no Cônego), o “São Luis” e o “São José” (ambos no Centro).

Enquanto pensava-se que o cinema não conheceria rival, no campo da diversão, uma corrente, aos poucos, iria  crescendo até suplantá-lo: a televisão.

Os antigos frequentadores preferiam o aconchego e a comodidade do lar, do  que as imensas salas de projeção dos cinemas. Foi a decadência do período áureo do cinema, em que muitos fecharam as suas portas.  

Aos poucos, os antigos proprietários  iam falecendo. Os que restavam e os herdeiros resolveram vender o Marabá para o Sr. Antônio Moretti, em 1986, que ali instalou a sua casa comercial, Mac-Still. Três anos depois, era vendido a Heder Carestiato.

No ano de 1991, o prédio do antigo Cine Marabá foi demolido e, no seu lugar, seria construído um suntuoso edifício, o Ed. Antônio Carestiato.

Dele, agora, só restam muitas lembranças, algumas fotos que, em breve, estarão amareladas pelo tempo, e uma placa de bronze comemorativa da apresentação do ator Rodolfo Maia, na famosa peça “As Mãos de Eurídice”, em fevereiro de 1952.

 Mais uma página virada na história da arte e da diversão em Nova Friburgo. Lamentável e nostálgico.   

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