Honrar o Corpo

20/07/2015 10:33:49
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“Só há um templo no mundo, e é o corpo do Homem.
Nada é mais sagrado que esta forma sublime.
Inclinar-se diante de um homem é um ato de reverência
diante desta Revelação na Carne.
Toca-se o céu quando se toca um corpo humano.”
Friederich Novalis

“O corpo é a escritura de argila que somos”, afirma Roberto Crema. É o nosso templo sagrado, onde nossos outros corpos sutis habitam e coabitam, traduzindo o nosso texto mais visível, a mensagem primordial, o “Verbo” que se faz carne. Dentro de nosso corpo, o Sopro move a expressão desta Sabedoria Eterna, que se oculta na misteriosa linguagem do corpo, que precisamos reaprender a escutar, interpretar e reverenciar.

O nosso corpo é um lar de profundas e milenares memórias. É ele quem toca, e nesse toque aprendemos a sentir, e neste sentir compreendemos, e nesta compreensão aceitamos, e na aceitação reverenciamos, e na reverência nos humildamos, e na humildade comungamos com Deus. Ele é o trajeto simples do material ao sutil, e do imaturo ao maduro, pois só é possível transformarmos na medida em que somos. O corpo é o Presente Divino que nos permite materializar o Ser. Ser o que somos de forma concreta para que haja a Grande Alquimia.

Temos sido modelados para a separação, e nesta fragmentação perdemos a simplicidade, a abertura, a naturalidade de renascermos a cada instante para a eterna novidade do Mundo. Assim nos fechamos, e vamos perdendo a flexibilidade de olhar para todas as direções, de escutar, de perceber e de amar. Nesse enrijecimento cimentamos nossa fluidez, e o inusitado nos escapa. Vamos perdendo a possibilidade de nos deslumbrarmos com a vida, de nos surpreendermos com a Essência e a Beleza de tudo. Vamos nos estagnando, massacrando o milagre do Servir. “Ser+Vir”… Pois é através do serviço que permitimos que o “Ser venha”, que possibilitamos a Grande Cura, a iluminação de nossa alma através do corpo.

Na linguagem simbólica do corpo, o visível aponta para o invisível. O corpo se torna assim um trampolim para mergulharmos no desconhecido, nos mistérios de quem somos, o inconsciente escondido. Honrar o corpo é um convite ao resgate desta flexibilidade, através do olhar puro da Criança, da escuta oca e sagrada do Aprendiz. Observar com profundidade o corpo, realizando uma jornada ascensional pelo Eixo da Vida, numa leitura Essencial. Sem confusão ou negação, sem medos ou rejeição… Nada a opor, nada a idolatrar.

Eis a visão holística, o bailado da inteireza que nos abre à fluidez do aprendizado, rumo à abertura e à inclusão. Poderemos assim evoluir, do vício da rigidez à dança fluida da transpessoalidade. Esse é o rito de passagem. O rito iniciático do nosso corpo ao pleno estado de Ser. Uno e Verbo. Ação e fluidez. Ser e Vir no serviço da Vida.

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