Figuras curiosas e populares da Alberto Braune na década de 1940

14/12/2016 18:41:44
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A Alberto Braune (como a Praça XV, atual Getúlio Vargas) sempre foi a importante artéria comercial de nossa cidade, transitando por suas calçadas os mais variados tipos de pessoas: os moradores, os lavradores de nossa região rural que vinham às compras (identificados pelo modo de trajar), os veranistas (os turistas da época do verão), os mendigos (que passavam pelo comércio, aos sábados, pedindo esmolas) e os  tipos populares.   

O Sr. Fioravanti Bazetti, de terno escuro, óculos de aro fino, cabelos e cavanhaque brancos, bem idoso e magrinho, já curvado, se apoiando numa bengala, passava anunciando os bilhetes da loteria:                             

– Vai correr!  Quem vai querer? Olha a cobra, o coelho, a borboleta… O peru está na mão! 

Padre Júlio Billot, coadjuvante do pároco da, então, Matriz de São João Batista, trajando sua batina, sempre munido de uma caixinha de rapé, o qual tinha por hábito botar uma pitadinha no nariz das crianças que estivassem ao seu redor.                                                                                                                        

A “Ana Doida”, de cabelos grisalhos- presos num coque desalinhado- com alguns fios caindo pelo rosto, que guardava ainda um pouco de beleza e um resto de mocidade. Não gesticulava, nunca fazia ouvir a sua voz, aparentando resquícios de esmerada educação. Algumas vezes entrava na Matriz, habitualmente, ficava sentada na saliência do muro da casa da família de Alberto Braune ou, ao lado, na da família de Elias Caputo. Trajava, sempre, um vestido sobre a calça comprida, e diziam que ela ficara perturbada, por ter sido abandonada pelo marido.                                                                                               

O “Felipe Doido”, mulato, com desequilíbrio mental, um tanto alcoolizado, andrajoso, causava medo às crianças, pelo seu aspecto, embora fosse inofensivo.

A “Minervina”, uma negra velha, baixinha, beiçola, de pano colorido na cabeça, pernas muito arcadas, sempre carregando um ramo de espadas de São Jorge, diariamente, na entrada da Matriz, aguardando uma esmola.

O “Xandoca”, um negrinho baixo, sorridente, de pés espalhados, tirava acordes dissonantes e repetitivos de seu cavaquinho, enquanto andava altas horas da noite, pela rua silenciosa, deserta e mal iluminada.

Os meninos que passavam, pelo comércio, espalhando anúncios fúnebres, mandados imprimir pela funerária contratada para fornecer o caixão (os caixões eram de tábuas cobertas por um tecido roxo, lilás ou preto, com pequenos detalhes dourados, e as tampas eram amarradas por fitas de cetim). 

Os cortejos fúnebres, obrigatoriamente, faziam o seu trajeto a pé, pela Alberto Braune, porque o morto (depois de velado, por 24 horas, na casa da sua família) era conduzido, em seu caixão, por mãos solidárias e vigorosas  à Matriz, para a “encomendação do corpo” – enquanto os sinos dobravam- e a seguir, levado ao cemitério (tal costume perduraria até fins da década de 1960). 

O piedoso Teófilo Marra, que prestava a sua solidariedade às famílias enlutadas, acompanhando todos os enterros, desde os de pessoas de destaque na sociedade até os dos mais humildes, se tornando por isso, uma figura popular e querida (seu nome ficaria imortalizado numa rua, no Cordoeira).    

O trem- garboso, altaneiro, majestoso- cortava nosso município de norte a sul, apitando, tocando o sino, soltando vapor, num desfile triunfal pelo centro da cidade, conduzido pela magnífica e saudosa locomotiva 116 (que viria a ser retalhada, a maçarico, em nossa praça principal, no dia 26 de outubro de 1967). Constituía o encanto das crianças, a admiração dos visitantes, o orgulho dos friburguenses.

Era a condução mágica que nos transportava a um mundo encantado, de fascínio, de sonho e de magia.

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