Chove, chuva

09/02/2015 18:15:26
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“São as águas de março, fechando o verão / É a promessa de vida no meu coração”

Quanto mais calor fez em janeiro, depois de um dezembro igualmente escaldante, mais os versos de João Gilberto me vinham ao pensamento. Junto com eles, uma lembrança ainda que vaga dos livros da especialista Sônia Hirsch, que dizia sempre, meio em tom de brincadeira e outro tanto de verdade, que devíamos adicionar mais uma às quatro estações: o final do verão. Segundo ela, esse é um período especial e particular, quando as águas chegavam para lavar tudo.

Isso certamente era no tempo em que as estações eram mais definidas, há poucas décadas atrás. Hoje, neste verão quente e seco, escrevo de casaco. Sim, de casaco. Mas o que aconteceu? O tempo, senhores, além de ser senhor da razão, no sentido temporal do termo, atualmente é também imprevisível, no sentido climático da palavra. Eis que em fevereiro, às vésperas do carnaval da seca – ainda não falta água em todo lugar, mas, pelo menos, em vários os lugares – o sol foi embora, um vento frio ameaça de vez em quando e a chuva dá o ar da sua graça.

Chego à casa da vovó para o almoço e a família está em polvorosa com a chuva torrencial prevista para a região serrana às quatro da tarde. As crianças não vão mais à aula (que mal começou). Quatro horas da tarde? Começa o debate. Chuva com hora pra acabar? Nunca vi, diz um. Não acredito, mais um. Consulta à TV, ao Facebook, ao torpedo de alerta da Defesa Civil, aos sites mais confiáveis. Será? Paro o garfo na altura da boca pensando no que fazer. Onde deixar o carro? Fico na casa plana onde estão todos ou vou sozinha para a minha casa de dois andares? Convido a galera? Os pensamentos se vão assim que se sobrepõem os compromissos. E uma conclusão: o que tiver que ser, será.

Aliás, deixa eu tirar o casaquinho. Começou a esquentar de novo. Olho pro céu, nem uma gota.

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Fora de Friburgo estava e demorei a passar pela praça detonada pelo corte das árvores da Praça Getúlio Vargas. Triste talvez seja que já nem me entristeço mais com os fatos deprimentes da administração pública. Mas ainda me espanto que, como regra, os jardins da cidade estejam permanentemente mal cuidados e que os rios virem matagal constante. Volto ao tema.

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“É pau, é pedra, é o fim do caminho”.
Foi o poeta quem disse. E faz tempo. Aliás, mesmo que não seja às quatro da tarde, deve vir temporal.

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