A importância dos relacionamentos para a evolução espiritual

15/05/2017 10:45:16
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Os relacionamentos são aspectos fundamentais da vida. São arquetípicos, ou seja, são experiências que penetram na estrutura básica da psique humana, e também na estrutura coletiva da mente universal. Na verdade, são os relacionamentos que constroem tudo o que existe. Não teríamos consciência de nada se um determinado aspecto não nos fosse mostrado através da diferença do outro. E cada um espelhará um aspecto diferente da vida, pois cada ser é único, possui uma forma única de agir e interpretar a vida. O relacionamento entre duas ou mais individualidades define e identifica cada um, e também a Vida. Então perceberemos que só podemos nos conceber como ser humano e indivíduos a partir da comparação que fazemos com tudo aquilo que não somos. Todo ser cria um não-ser que o define.

Se prestarmos atenção, perceberemos que todos os mitos, contos e lendas são criados e formados a partir do momento em que um indivíduo se encontra com outro, e então, necessariamente, precisa haver relação. Na relação com o outro iremos nos surpreender com as tantas emoções e reações que este relacionamento fará emergir. Através do encontro e do confronto, da briga e da reconciliação, do ódio e do amor, vamos aprendendo a nos conhecer e a conhecer o outro, e assim vamos amadurecendo.

Perceberemos ao final que, apesar de todas as feitiçarias e encantamentos; bruxas, feiticeiras e madrastas malvadas; ogros e gigantes; algozes e traiçoeiros; vingadores e vítimas; prêmios e castigos; o amor sempre triunfa. O “The End” sempre termina com os príncipes e princesas, heróis e heroínas, vivendo felizes para sempre. O amor sempre prevalece, o mal sempre é vencido, e todo o reino brilha para sempre na alegria, na harmonia e na Luz.

Portanto, não desanimemos perante os desafios que os relacionamentos nos trazem! Junto à fase adulta, teremos que reaprender a enfrentar a vida, sem a ingenuidade da criança. Começaremos a compreender, às vezes cedo demais, que para sermos “felizes para sempre!” precisaremos fazer nossos relacionamentos darem certo, e isto requer responsabilidade, compromisso, disciplina, entrega, auto sacrifício, comunicação, renúncia, e outras tantas habilidades que vamos desenvolvendo ao longo da aventura do existir. E teremos a surpresa de perceber que, mesmo com tudo isso, este desconhecido que está à nossa frente – seja o cônjuge, o filho, os pais, o sócio, o amigo, o professor, o patrão ou a sogra – permanecerá para nós um estranho.

Em vista desse aspecto, os relacionamentos se tornam necessários não apenas para satisfazer as necessidades óbvias do ser humano – alívio da solidão, satisfação do desejo, compensação da carência, continuação da espécie, proteção e sobrevivência, experiência do amor, prover bens matérias – mas também são essenciais para o desenvolvimento da consciência e do conhecimento de si mesmo. Não saberemos nossa real aparência até que nos vejamos refletidos no espelho do outro.

É exatamente esta a questão profunda que levará uma pessoa a buscar aconselhamento e terapia. A princípio, de forma superficial, os fatos relatados mostrarão um palco no qual se desenrolam as dificuldades de relacionamento. Mas ao final, a terapia fará o paciente perceber profundamente que o verdadeiro conflito existente é o da própria pessoa consigo mesma. Todas as necessidades, medos, desejos e expectativas do indivíduo diante do outro são apenas o reflexo de seus próprios medos, inadequações, incapacidades, bloqueios, rejeições e conflitos interiores. Quanto mais intensa for a necessidade de corrigir um relacionamento e o outro, mais intensa será a necessidade – por vezes inconsciente – de nos conhecermos profundamente, de estarmos bem conosco mesmo. Se nos aceitamos e nos compreendemos, aceitaremos o outro e o compreenderemos, de forma total, com suas perfeições e imperfeições, e dessa forma daremos nascimento ao amor incondicional. Assim sendo, todos os relacionamentos são um caminho em direção ao autoconhecimento.

Há muitas formas de encararmos o outro e a realidade. E apesar de todas as teorias, conceitos e explicações plausíveis, o coração de cada ser humano permanece um mistério, assim como as forças de atração e repulsão que atraem os indivíduos entre si também continuam um mistério, por mais que tentemos defini-las e confiná-las em termos conceituais. Ao final de todas as explicações, somos somente um ser humano e um coração diante do outro ser humano e outro coração; e se não podemos, apesar de todos os nossos esforços, compreendê-los com nosso intelecto, podemos, ao menos, aprender a senti-lo e aceitá-lo com o nosso coração.

Esta é a hora de tirarmos a poeira de nossas velhas histórias sobre mitos e contos de fada! Jung já nos mostrou que os mitos, assim como os sonhos, não são aquilo que aparentam, mas que existe uma sabedoria oculta que nos fala através dos símbolos. Esta sabedoria, porém, não nos fala ao intelecto, mas a um nível interior de percepção e entendimento, que está muito além da razão. É uma comunicação direta do inconsciente, individual e coletivo, através da linguagem simbólica que nos cabe reaprender a sentir e interpretar com nossos outros sentidos. Se ao final, os heróis e heroínas, príncipes e princesas, e todo o reino, vivem felizes para sempre, existe um sentido em tudo isso. Mas sabemos que eles não pertencem ao mundo comum, mas ao mundo da psique. E somente poderemos construir esta felicidade exterior, quando nosso reino, nossos heróis e todas as nossas figuras interiores e arquetípicas estiverem vivendo em harmonia. Se o conto de fadas diz que o príncipe, para conquistar e salvar a princesa, precisará desafiar o dragão, destruir a bruxa má e destronar a rainha perversa com a ajuda de seus leais companheiros animais, cândidos anões e ogros excluídos, precisaremos compreendê-los sob uma nova perspectiva, e uma visão mais abrangente. Poderemos compreender os caminhos que precisaremos traçar e os desafios interiores que precisaremos vencer para que conquistemos a almejada felicidade. Os mitos e contos de fada são um mapa para o mundo desconhecido de nossa psique, são a jornada do herói em busca da amada para que, por fim, nos tornemos inteiros. Assim, o amor triunfa sempre!

Nossas vidas e nossa relações tem exatamente tanto, ou tão pouco sentido, quanto aquele que nelas colocamos. A jornada do herói contém muitas surpresas, mas a maior delas é descobrirmos que além de heróis e heroínas, somos simultaneamente o dragão, a bruxa má, a rainha perversa, a princesa amada, o anão, o ogro rejeitado, o animal útil … e também somos a própria jornada e o narrador das histórias, tudo isto ao mesmo tempo! Somente conquistaremos a felicidade completa quando vencermos a nós mesmos e harmonizarmos nossos relacionamentos interiores!

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